30
de novembro de 2013 | N° 17630
NILSON
SOUZA
Porto-alegrismo
Toda
vez que consigo escapar do regime semiaberto da insegurança urbana, gosto de ir
a Florianópolis. Tenho parentes e amigos lá, adoro as praias, o centro
histórico, o visual da ponte Hercílio Luz, o perfume açoriano de Santo Antônio
de Lisboa, o falar cantado dos manezinhos. Tudo é encantador na bela capital
catarinense. Os gaúchos, se pudessem, trariam Florianópolis para este lado do
Mampituba. Mas não a trocaríamos por Porto Alegre, de jeito nenhum.
Dona
Dilma brincou certo com palavras erradas ao dizer que “a maior tristeza do Rio
Grande do Sul é que Porto Alegre não é Florianópolis”. Ela queria fazer um
agrado aos florianopolitanos, mas acabou pisando no pala dos gaudérios mais
sensíveis. Talvez fosse mais adequado dizer que “a maior alegria da gauchada é
poder ir a Florianópolis de vez em quando”.
Mas
disse e está dito, não me senti ofendido e nem creio que devamos fazer uma
revolução por tão pouco. Quando fizemos, é bom lembrar, chegamos a pensar em
tomar conta da Ilha do Desterro, mas a turma de Garibaldi – como acontece agora
com quem vai pela BR-101 – não conseguiu passar de Laguna.
Voltemos
a Porto Alegre, portanto. Dona Dilma, que tem filha e neto gaúchos, que já
viveu neste chão e que talvez retorne para cá quando cansar de Brasília, sabe
muito bem que nós, nativos e adotivos, devotamos um amor incondicional a nossa
cidade. O porto-alegretense Mario Quintana foi magistral na interpretação deste
sentimento: “Ó céus de Porto Alegre, como farei para levar-vos para o Céu?”.
É o
que gostaríamos todos de fazer. Vale aquele manjado jogo de palavras: a gente
até pode sair de Porto Alegre, mas Porto Alegre não sai de dentro da gente. Não
é só o pôr do sol do Guaíba, nem apenas essa primavera que floresce a partir da
Feira do Livro, nem mesmo o mate domingueiro da Redenção.
O
que nos amarra a esta cidade é uma paixão atávica, gravada no nosso código
genético. Uma coisa contagiante. Mesmo quem não nasceu aqui acaba pegando esse
porto-alegrismo. Veja-se a mineira Dilma. É só ter uma folguinha nos seus
afazeres presidenciais e já desembarca por aqui. E não esquece da Leal e
Valerosa nem na hora de fazer gracinha. Tudo bem, não vamos nos importar. Nem
ficaremos tristes. Até porque a presidente disse a verdade: Porto Alegre não é
mesmo Florianópolis. Nem deseja ser.
Por
que quereríamos trocar o céu pelo mar se podemos ter os dois?
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