25 de novembro de 2013 | N° 17625
L. F. VERISSIMO | L.F. VERISSIMO
Triste Jasmine
O filme Blue Jasmine, de Woody Allen é ao mesmo tempo uma
consagração e uma demolição. A consagração é da atriz Cate Blanchett, que nos
dá, sem exagero, uma das grandes interpretações da história do cinema.
Demolição é o que sofre a sua personagem no filme.
Há alguns exemplos de diretores que fizeram filmes
especificamente para suas atrizes brilharem, como acontece com Blue Jasmine. O
exemplo mais recente é do próprio Woody Allen, que fez Annie Hall para Diane
Keaton dar seu show – e, pelo que se diz, para levá-la pra cama.
Desta vez, o presente é para Blanchett. Que, por justiça,
deve dedicar o Oscar que fatalmente ganhará no ano que vem a Allen. Já Jasmine,
a trágica personagem que ela interpreta, teria todo o direito de processar o
autor do filme por crueldade mental.
Woody Allen costuma homenagear diretores que admira em seus
filmes. Já brincou de Ingmar Bergman várias vezes, já fez sua versão do Oito e
Meio de Fellini, e em Blue Jasmine evoca Um Bonde Chamado Desejo, que Elia
Kazan fez de uma peça de Tennessee Williams.
Como a Blanche Dubois interpretada por Vivien Leigh naquele
filme, Jasmine é uma vítima dos homens e das suas próprias fantasias. No filme
de Kazan, a insensibilidade masculina que destrói a frágil Blanche é a de um
Marlon Brando brutal e suarento. Em Jasmine, o homem é um sofisticado Alec
Baldwin, do mundo das altas falcatruas financeiras. A destruição é a mesma.
Allen faz tantos filmes seguidos, que conversas sobre sua
obra poderiam sempre começar com a pergunta “viste o deste ano?”. Acho que não
há outro cineasta vivo ou morto com uma produção tão grande – fora, claro,
aqueles diretores do cinema primitivo que faziam um filme por semana. Sua obra
inclui algumas bobagens (aquele sobre Barcelona ele deve estar querendo
esquecer) mas a média é extraordinária. E Blue Jasmine é um dos melhores.
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