30
de novembro de 2013 | N° 17630
EDITORIAIS
O REAJUSTE DOS
COMBUSTÍVEIS
A
busca do ponto de equilíbrio entre a defesa da política econômica e a
preservação dos interesses da Petrobras deve passar a nortear as relações entre
as autoridades do primeiro escalão e os dirigentes da estatal, estremecidas
pelas especulações em torno do aumento dos combustíveis. Espera-se que o
impasse comece a ser resolvido com o reajuste determinado ontem.
O
que prevalecia até esta sexta-feira era claramente o ponto de vista
governamental de que importa muito mais usar os mecanismos à mão para segurar a
inflação, o que incluía a contenção dos preços da gasolina e outros derivados,
do que atender aos apelos por reajuste. A decisão vinha prolongando a
descapitalização da empresa em nome da estabilidade.
Esse
retardamento foi uma opção controversa. A Petrobras enfrenta no momento o
grande desafio de investir recursos bilionários na exploração do pré-sal. Ao
mesmo tempo, deve-se levar em conta a percepção de analistas de estratégias
governamentais que consideram a importância da petroleira como estatal.
Nesse
sentido, seria ingenuidade imaginar-se que um grupo do porte da Petrobras possa
ser gerido sem intervenções diretas do governo. A Petrobras é uma empresa de
Estado e, mesmo que tenha ações em bolsa, se submete às vontades de seu
controlador, desde que respeitados os interesses de seus acionistas. É a
questão central a ser resolvida.
Até
que ponto o Planalto pode interferir nas decisões da empresa, sem que isso
comprometa sua integridade e os ganhos dos que nela apostaram poupanças e
reservas financeiras? O adiamento do reajuste vinha expondo o dilema e dando
sentido às reações de acionistas minoritários, segundo os quais é preciso
esclarecer os focos de conflito entre a sua direção e o Ministério da Fazenda.
Há
ainda, como componente explosivo, a questão política diretamente relacionada
com o período pré-eleitoral. Os preços dos combustíveis, se sabe há muito
tempo, prestam-se a manipulações, principalmente às vésperas de pleitos
nacionais.
O
que não se pode desconhecer é que a Petrobras perde sistematicamente valor em
bolsa, vê seu endividamento crescer e tem sido olhada com desconfiança sobre
suas reais condições de sustentar os custos da operacionalização do pré-sal.
Preservar a empresa e, em consequência, o patrimônio de seus acionistas, é
dever do Estado que a controla.
Depois
do reajuste agora anunciado, Petrobras e governo não escaparão da definição das
linhas gerais de uma política duradoura para correção de preços, ou a estatal
estará submetida aos humores de quem tenta centralizar decisões, nem sempre
claras, em nome do interesse nacional.
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