21
de novembro de 2013 | N° 17621
CAROL BENSIMON
Thelma
& Louise
Um dia, li por aí um ensaio
intitulado Green Screen: The Lack of Female Road Narratives and Why It Matters,
da norte-americana Vanessa Veselka. Vanessa foi uma adolescente que saiu
pelos Estados Unidos pedindo carona. No meio de uma de suas viagens, ela é quase
morta por um serial killer que dirigia um caminhão; abriu a porta, saiu
correndo pelo mato, e nunca teve certeza se aquele era de fato o homem que
estava matando menininhas em postos de gasolina, ou se o sujeito tinha tentado
lhe pregar uma peça.
O
trauma da jovem Vanessa é o ponto de partida para seu ensaio sobre a falta de
narrativas de estrada protagonizadas por mulheres. Segundo ela, enquanto, para
os homens, a estrada remete à liberdade, aventura e autodescoberta, às mulheres
restam as trágicas opções da invisibilidade, dos crimes sexuais e da morte. “O
homem na estrada é solitário”, escreve Veselka. “A mulher na estrada é sozinha.”
Essa
realidade desigual seria, em parte, alimentada pela própria arte: a falta de um
imaginário de “mulheres caindo na estrada” faz com que poucas ousem considerar
isso como uma opção. Em outras palavras, faltam, na ficção, mulheres heroicas
que possam servir de modelo para essas mulheres reais e potencialmente
interessadas em jornadas transformadoras.
Curioso
que Veselka não cite Thelma & Louise, o filme de 1991. Thelma & Louise é
a única narrativa de estrada protagonizada por mulheres que todo mundo conhece.
Ou quase todo mundo. A essa altura, você já percebeu que eu acho esse assunto
fascinante, e portanto é claro que já me debrucei algumas vezes sobre a jornada
da garçonete e da dona de casa. Sinceramente? Não sei o que pensar. Seria o filme
de Ridley Scott uma narrativa feminista, um hino de libertação, ou aquela cena
final mandaria o recado de que não há saída, não há outra vida possível para as
duas amigas?
Agora
eu lhe convido a voltar aos primeiros quilômetros rodados: a jornada das duas só
começa de fato porque Thelma é quase estuprada em um bar, e Louise reage
matando o suposto agressor. Nesse sentido, o filme seguiria a lógica apontada
por Veselka: 1) mulheres na estrada = vítimas potenciais de crimes sexuais; 2) mulheres
na estrada não estão ali porque querem, mas porque foram “forçadas”.
A
despeito disso, acho Thelma & Louise um belo filme. Basta não teorizar
demais.
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