ELIANE CANTANHÊDE
A
Papuda embranqueceu
BRASÍLIA - Você sabia que 61,8% dos negros vítimas de
violência não dão queixa na polícia? Pois é.
Eles não confiam nos agentes do Estado pagos justamente para
proteger a sociedade. E não confiam pelo longo histórico de injustiças e de
seletividade. Numa batida policial, adivinha quem cai na rede? E quem mais
sofre maus-tratos?
O percentual consta da Nota Técnica número 10 do Ipea, que
dá muito o que pensar, sobretudo neste momento de apaixonado debate sobre a
prisão dos mensaleiros --quer dizer, sobre a dos três mensaleiros petistas,
porque ninguém dá bola para todos os demais.
Segundo a pesquisa, intitulada "Vidas Perdidas e
Racismo no Brasil", de Daniel Cerqueira e Rodrigo Leandro de Moura, o
número de presidiários negros é muito superior ao de presidiários não negros:
eram 253 mil contra 170 mil em 2010. Ou seja, 80 mil a mais!
Confinados a áreas mais pobres e mais violentas, os negros
são as maiores vítimas e acabam sendo também os maiores réus, confirmando que
as prisões brasileiras continuam sendo para os PPP --pobres, pretos e
prostitutas.
Como uma coisa puxa outra, poucos --governos, instituições,
cidadãos-- de fato se preocupam e se ocupam com o que acontece, a sete chaves,
entre as grades, nesses ambientes "medievais" e
"desumanos", conforme adjetivação das próprias autoridades que
deveriam zelar pela Justiça.
É por isso que, hoje, os holofotes estão na Papuda, a
penitenciária da capital da República. Ali, os PPP passaram a conviver lado a
lado com os colarinhos brancos.
O condenado Cristiano Paz, que não é bobo nem nada, já mudou
de ideia e, em vez de Minas, preferiu ficar preso na Papuda mesmo. Com a
romaria de um ex-presidente da República, do governador do DF e de deputados do
PT, alguma coisa deve mudar por lá. Tomara que não seja só para os novos
habitantes..
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