16
de novembro de 2013 | N° 17616
EDITORIAIS
A PRISÃO DOS
MENSALEIROS
Ao
expedir ontem os primeiros mandados de prisão para os condenados no processo
que ficou conhecido por mensalão, o presidente do Supremo Tribunal Federal,
ministro Joaquim Barbosa, passou uma mensagem simbólica à nação no dia da
Proclamação da República: já não cabe mais dizer que este é o país do jeitinho
e que políticos ilustres não vão para a cadeia. Isso, evidentemente, não
significa que acabou a impunidade no Brasil.
Ainda
precisamos avançar muito na implantação de mecanismos de controle e
fiscalização da administração pública, no combate efetivo à corrupção e na
depuração ética dos nossos dirigentes. Mas agora já não há mais dúvida de que
as instituições democráticas podem funcionar com eficiência, julgar sem
autoritarismo e punir estritamente de acordo com a lei.
Como
em qualquer julgamento, sempre há quem concorde e quem discorde. Esse processo,
especialmente, foi e continua cercado por alta voltagem política, especialmente
na véspera de um ano eleitoral em que o comando do país está em jogo.
Porém,
assim como não cabe celebrar as prisões como uma vitória do bem contra o mal,
também é absurdo atribuí-las a perseguições políticas ou a interesses
ideo-lógicos. O que houve foi um julgamento de total transparência por uma
corte independente, como amplo direito de defesa para todos os denunciados e com
o uso de todos os recursos possíveis pelos condenados, alguns dos quais ainda
em exame.
Para
uma avaliação mais isenta do episódio, não se pode fixar em nomes ou no
histórico dos condenados, alguns deles com inegáveis contribuições à democracia
e ao país. O essencial é que agentes públicos, banqueiros, intermediários e
lobistas que cometeram delitos comprovados estão sendo punidos. Mais: o país
está emitindo um sonoro não a práticas inaceitáveis como o uso de caixa 2 em
campanhas políticas ou a compra de apoio parlamentar com dinheiro e favores.
Por
isso, são simbólicas as prisões num dia tão significativo para a história do
país. Quando optamos pela República, também optamos pela democracia com todas
as virtudes e defeitos desse sistema político considerado por Churchill como “a
pior forma de governo, com exceção de todas as outras”.
Pois
o julgamento do mensalão, ainda que facções inconformadas tentem classificá-lo
como farsa, foi democrático e republicano. Os julgadores até podem ter cometido
alguma injustiça, pois são humanos e os humanos falham, mas fizeram tudo às
claras, sob intensa vigilância da nação, que agora precisa acatar as sentenças
com respeito e naturalidade.
Nada
nesse episódio pode ser mais importante do que o exemplo para o futuro: quem
comete delito deve ser punido, independentemente de estar no governo ou na
oposição, de ter filiação partidária ou não, de ser político ou um simples
cidadão.
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