23
de novembro de 2013 | N° 17623
NILSON
SOUZA
A árvore do
pertencimento
Dia
desses, por pura curiosidade, resolvi sair atrás de minhas origens. Conheci
pessoalmente todos os meus avós, um Valentim de Souza casado com uma Ramos e um
Fialho casado com uma Corrêa.
Mas,
de meus bisavós, tinha apenas os nomes, breves referências familiares e o
retrato desbotado de um casal de anciãos – o velho com a minha barba e a minha
cara, o que não deixa qualquer dúvida sobre o parentesco. Acima deles, não
tinha a mínima ideia do que viria.
A
internet tinha.
Num
desses sites de genealogia, encontrei a parentada toda, com nome e data de
nascimento. A pesquisa é tão envolvente, que por pouco não chego a um
Neandertal de Souza. Mas cheguei a uma das ilhas do arquipélago de Açores, de
onde vieram muitos dos meus ancestrais. A portuguesada se arranchou por Laguna
e Santo Antônio, foi se chegando para os lados de Gravataí e deu neste
porto-alegrense que vos fala – um galhinho inexpressivo da frondosa árvore que
se formou a partir da pesquisa.
Fiquei
surpreso com as descobertas. Nunca imaginei que uma família de gente pra lá de
simples pudesse ter todos os registros em dia. Sempre pensei que, naquelas
roças remotas, algumas pessoas até passavam pelo planeta sem existência
documentada. Mas não: nossos açorianos e seus filhos deixaram as suas marcas no
mundo.
Constatei,
também, que os casais de antigamente ficavam mesmo juntos até que a morte os
separasse. E tinham pencas de filhos. Outra curiosidade extraída desse estudo
retrospectivo foi a impressão de que somos todos parentes. Na medida em que a
gente vai voltando no tempo, os sobrenomes vão se misturando.
Entre
meus antepassados aparecem Nunes, Pereira, Conceição, Vargas, Medeiros e outros
menos votados. No meio do caminho, até um ramo Coruja apareceu – de onde
concluo que a ave da sabedoria e dos mistérios poderia inspirar o brasão familiar
se algum descendente se interessar pelo assunto.
Mas
o que mais me encanta nessa viagem ao passado é imaginar que só estou aqui
porque homens e mulheres de outros tempos, inflamados de ousadia, atravessaram
o mar e plantaram suas sementes em terras inóspitas, gerando famílias, povoados
e cidades – como também o fizeram heroicamente tantas etnias que formam o povo
brasileiro.
Gostei
de localizar minha árvore nessa floresta de gerações.
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