quarta-feira, 27 de novembro de 2013


27 de novembro de 2013 | N° 17627
MARTHA MEDEIROS

Um toque da Tailândia

Passei os últimos 21 dias realizando um sonho antigo: conhecer a Tailândia e, de quebra, dar um pulinho no Camboja logo ali ao lado – ainda que seja um disparate falar em “logo ali” ao referir-se à Ásia.

Acompanhada do grupo seleto comandado pelas gurias do Viajando com Arte, vivi em três semanas o que nunca imaginei possível em menos de três vidas: fiz desde um safári de elefante até rafting de jangada, fui de mergulho em alto-mar a passeio de barco por aldeias flutuantes, de luau na beira da praia a cerimônia de bênção de um monge, sem falar na apimentada aventura gastronômica e no impacto de conhecer os templos de Angkor montada numa bicicleta. Cada dia parecia possuir 40 horas, exatamente o que se deseja quando se está num ritmo frenético de trabalho, com a vantagem de o trabalho ter sido deixado pronto antes.

Os detalhes ficarão para a segunda parte de Um Lugar na Janela, relatos de viagem que um dia voltarei a publicar. Por ora, sendo o espaço curto, saliento o reencontro com algo que se tornou raro entre nós: a delicadeza.

O Oriente não grita. O Oriente sussurra.

Além de usarem um tom de voz absolutamente relaxante para nossos ouvidos estressados, nunca vi tantos sorrisos em rostos estranhos. As pessoas sorriem o tempo todo umas para as outras. Por nada. Por tudo. Trabalham sob um calor massacrante e ainda assim não se emburram, não perdem a compostura, não passam a mão na testa, parece que nada que é externo os atinge. O ar-condicionado funciona por dentro. A alma é que é climatizada.

Sua cultura não estimula o contato físico que para nós é tão normal: nem abraços, muito menos esbarrões. Não se tocam com o corpo: o contato se dá com o olhar direto e com o semblante sereno de quem, em sua infinita calma (90% da população é budista), tem tempo para ouvir os outros e para repetir informações pacientemente até que fique claro que o importante não é tocar, e sim trocar.

Até mesmo no apressado e caótico trânsito de Bangcoc, a coisa se resolve sem buzina.

Pessoas viajam pelo mundo para conhecer monumentos, comer, comprar. A atenção geralmente é voltada para o que se pode fotografar com a câmera e administrar com o bolso. A Tailândia e o Camboja são realmente fotogênicos. Quanto às compras, o mundo virou um supermercado gigante e o que se comercializa lá é vendido aqui também, compra-se mais por impulso do que pela novidade. O que não se globalizou (ainda) é o espírito do lugar, e isso é que verdadeiramente encanta: a reverência que não é submissão, mas respeito. O silêncio que não é timidez, mas educação. E flores e cores em abundância, que traduzem a importância do mínimo essencial: a beleza que não é vaidade, mas manifestação de amor à vida.


Impossível não voltar tocada.

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