18
de novembro de 2013 | N° 17618
LIBERATO VIEIRA DA CUNHA
Os melhores
livros
O
século 21 já é um adolescente de 13 anos e algumas baladas, mas continuam me
chegando, pela eternidade de signos transitórios que é a web, listas de outras
idades. Desta vez invade minha telinha a relação dos cem melhores livros do
século 20. Leio o rol, assim de saída, com certa curiosidade que devoto às
coisas de antigamente e, logo, com algum estranhamento.
Tudo
bem que tenham colocado Ulisses em primeiro lugar. Excetuada dona Sylvia Beach,
ninguém leu mesmo, especialmente nas traduções brasileiras. Mas por que o
mesmíssimo autor, James Joyce, ganha a terceira posição, desta vez com Retrato
do Artista Quando Jovem? Ele foi tão imenso quanto o supõe o júri, aliás
formado por escritores já idos e vividos?
Não
entendo também por que deram o segundo posto para O Grande Gatsby. É um livro
muito bom, mas não se pode compará-lo com a obra-prima de Scott Fitzgerald,
Suave é a Noite, e sei bem do que estou falando, pois sou, aqui na Rua Duque,
possivelmente a pessoa que mais leu o que dona Gertrude Stein chamou (teria
mesmo chamado?) de A Geração Perdida.
E já
que estamos nesse campo, que fim levou Ernest Hemingway? O magnífico O Velho e
o Mar não aparece na lista, em benefício de O Sol Também se Levanta, uma
história que é a tentativa ainda canhestra do criador de Santiago de se tornar
romancista (as páginas iniciais foram reescritas 18 vezes por sugestão de
Fitzgerald antes de chegarem à editora).
O
que vem depois? Nada mais que Lolita, de Nabokov. É a novelinha de um russo que
viveu na Alemanha, escreveu na Suíça e conheceu o sucesso nos Estados Unidos
graças às curvas daquela ninfeta chamada Dolores Haze e aos milagres da Usina
de Sonhos que outrora habitou Hollywood. Na quinta colocação aparece Admirável
Mundo Novo, de Aldous Huxley. Mas se estamos nesse terreno, por que 1984, muito
superior, foi desterrado para o décimo-terceiro posto?
O
Som e a Fúria, de William Faulkner, merece o sexto lugar, assim como Filhos e
Amantes, de D.H. Lawrence, encaixa bem no nono, e As Vinhas da Ira, de John
Steinbeck, honra o décimo. Mas será que são tão importantes um Joseph Heller e
um Arthur Koestler, eleitos para os intervalos?
E
nesses cismares estava eu, quando resolvi procurar Proust. Nem sinal. Nem
sombra.
E aí
fez-se luz em meu opaco cérebro. As cem obras selecionadas eram todas em
inglês. Ou seja: fora do coração do Primeiro Mundo não existe vida inteligente,
na opinião dos jurados.
Talvez
seja por isso que, na internet, um Machado, um Borges, um Pessoa, sejam meros
tropeços de teclas mal digitadas.
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