quarta-feira, 6 de julho de 2011



06 de julho de 2011 | N° 16751
PAULO SANT’ANA


Outros ângulos da inveja

Recebi ontem um e-mail espetacular: o leitor se considera um invejoso nato e diz que seu esporte preferido é visitar condomínios luxuosos em Atlântida e Porto Alegre, quando se delicia ao invejar seus felizes proprietários.

Ele não pode passar um dia sequer sem invejar os outros. É da sua vocação a inveja.

Fico a imaginar que este invejoso detesta visitar presídios, hospitais e asilos, onde não tem a quem invejar.

Foi então que flagrei uma característica da inveja que me tinha passado despercebida, eu que tanto já escrevi sobre a inveja em minhas colunas.

É que o invejoso se compraz em admirar os atributos e as propriedades dos outros.

E obrigatoriamente – é da síntese de sua vocação – ele exalta as qualidades dos outros.

E ao exaltá-las está declarando que as qualidades do outro são muito maiores do que as dele.

Vejam então como dói ao invejoso a inveja: ele se sente assim totalmente inferior ao invejado, aliás só pode invejar quem vê no objeto da sua inveja uma nítida superioridade sobre si mesmo.

E, ao declarar-se inferior, quanta dor e quanto infortúnio isso causa ao invejoso. Rói-o por dentro aquela condição superior do invejado, mais lhe causa inveja e rancor a sua própria feiura, a sua pobreza, a sua fraqueza, a sua falta de talento.

Este invejoso, todas as manhãs, quando levanta da cama, sai para a rua para assistir ao desolador espetáculo dos que possuem mais que ele, dos que sabem mais que ele, dos que atraem as mulheres mais que ele, dos que têm melhor emprego do que ele, dos que têm carros muito mais belos e possantes do que o seu carro.

O invejoso não olha para trás, nem enxerga os que possuem menos que ele, só lhe interessa os que possuem mais.

Se lançasse seu olhar sobre os que têm menos dinheiro do que ele, sobre os que são mais fracos e mais doentes do que ele, sobre os que têm menos talento do que ele, seria feliz.

Nada disso, sua inveja inata atiça apenas nele o interesse de admirar nos outros o que mostram de mais vantajoso ou brilhante com relação a ele.

E em seguida se dá nele um fenômeno estupendo: como consequência natural de sua inveja sobrevém-lhe o ódio.

É então que aparece a face violenta de sua inveja: ele passa a agredir permanentemente os seus invejados. Como se seus invejados fossem culpados de serem melhores do que ele.

O invejoso não suporta a ideia ou o sentimento de que seus invejados foram melhor agraciados pelo destino do que ele.

E se atira com devoção e aplicação à agressão destemperada e contínua dos invejados.

O invejoso é o mais sofrido e atribulado entre todos que frequentam as relações humanas.

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