sábado, 1 de janeiro de 2011


Editorial Folha

Diferenças tucanas

Seleção de nomes para o secretariado do governador Geraldo Alckmin desagrada a ala serrista e evidencia os conflitos internos do PSDB

Havia, em setores do PSDB, a expectativa de que o secretariado de Geraldo Alckmin pudesse reunir um time de nomes notáveis, capaz de fazer sombra ao ministério de Dilma Rousseff, marcado, como se viu, pela mediania e falta de brilho individual, com as acomodações políticas de praxe.

Havia, também, por parte dos tucanos ligados a José Serra, a expectativa de que Alckmin pudesse acolher sugestões do candidato derrotado à Presidência da República -expectativa que foi reforçada pelo engajamento para muitos surpreendente do governador na campanha do colega. Serra, quando pôde, nunca fez gestos semelhantes de desprendimento em benefício de Alckmin.

Passada a eleição e delineada a montagem do primeiro escalão do governo paulista, Alckmin toma posse hoje frustrando as expectativas iniciais do tucanato.

Tome-se, mais pelo efeito simbólico do que pela relevância da pasta, a nomeação tardia do deputado federal Márcio França, do PSB, para a recém-criada secretaria do Turismo. Indicado pelo partido e rejeitado para o ministério por Dilma, o líder local dos socialistas se arranjou, dias depois, com os tucanos de São Paulo.

No conjunto, além das nomeações destinadas a atender o apetite fisiológico das forças que apoiam o governo, o secretariado de Alckmin tem um pouco do perfil acanhado que adversários criticavam no seu primeiro governo.

Nele, o nome que mais se destaca é o de Saulo de Castro Abreu, o polêmico secretário da segurança Pública do mesmo Alckmin entre 2002-06, agora deslocado para a pasta de Transportes e Logística. Deve-se à gestão de Saulo -justiça seja feita- parte substancial da redução dos índices de criminalidade verificada ao longo da última década no Estado.

Entre 26 secretários, Alckmin manteve 7 nomes da gestão Serra. A permanência de Antonio Ferreira Pinto à frente da Segurança Pública responde à expectativa de que o importante trabalho de combate à corrupção policial tenha continuidade e respaldo.

Sinal de que Alckmin vai reassumindo uma posição mais autônoma em relação à ala serrista, o governador Alberto Goldman não foi contemplado com a pasta do Saneamento, pela qual manifestara interesse. O cargo ficou nas mãos de um quadro de menor expressão do PV.

No mesmo sentido foi a rejeição do pleito de Fernando Henrique Cardoso para que Paulo Renato Souza seguisse à frente da pasta da Educação. Alckmin nomeou para o cargo o reitor da Unesp, Herman Voorwald, ligado ao ex-secretário Gabriel Chalita, adversário político de Serra e hoje deputado federal eleito pelo PSB.

Embora nem Serra nem Alckmin estejam dispostos a facilitar a ascensão de Aécio Neves como líder nacional dos tucanos, está claro que a disputa de poder reavivou entre ambos um velho mal-estar.

A derrota de Serra oferece boas perspectivas para o novo governador recuperar terreno e projeção. Os sinais são de que os conflitos internos do PSDB devem recrudescer -com eventuais prejuízos às pretensões futuras do partido.

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