domingo, 2 de janeiro de 2011



02 de janeiro de 2011 | N° 16568
MOACYR SCLIAR


Palavras-chave

Estamos nos refundando, estamos nos reinventando, estamos na virada

Nos artigos científicos costuma figurar a expressão key words, palavras-chave. São termos que, se não chegam a resumir o que foi abordado, pelo menos dão uma dica a respeito. Nesse sentido, podemos dizer que 2010 teve suas palavras-chave, palavras ou expressões que, mesmo tendo existência anterior, apareceram repetidamente durante o ano, na mídia, em discursos de políticos ou de formas variadas. E quais são essas palavras?

A primeira delas foi objeto de minha coluna do domingo passado. É reinventar. Não é palavra nova. Já dizia um poema da grande Cecilia Meireles (1901-1964): “A vida só é possível/reinventada.”Em 2010, contudo, reinventar voltou ao vocabulário. Dizia uma notícia sobre o Corinthians: “Timão se reinventa em 2010” (mas não ganhou o campeonato no ano de seu centenário; no caso, reinventar não foi suficiente).

Em Belo Horizonte músicos de pagode se reuniram e criaram o grupo Reinventar. Um documentário (TV Cultura) sobre o heterodoxo psicanalista francês Jacques Lacan recebeu o título de Reinventar a psicanálise. Renovar a Teoria Crítica e Reinventar a Emancipação Social é o título de um livro do sociólogo Boaventura de Souza Santos.

Refundar. Dizia uma notícia de dezembro: “Senador eleito por Minas, Aécio Neves conseguiu o apoio do governador eleito de São Paulo, Geraldo Alckmin, e do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso para seu projeto de refundar do PSDB”. O que quer dizer isso, refundar? Para alguns dicionaristas de maus bofes a palavra significa tornar mais fundo, afundar, mas certamente não era isso que Aécio pretendia, a menos que seja um político maquiavélico, o que não é o caso. Refundar significa fundar de novo, em outras bases. Um pouco mais que renovar, sem chegar ao nível de revolucionar.

A propósito, FHC, citado na notícia, não é muito fã do termo, pelo menos quando usado pelos adversários. Tempos atrás considerou “um tanto pretensiosa” a declaração do ministro da Secretaria de Comunicação Social, Franklin Martins, de que o Ministério das Comunicações precisa ser “refundado” no Brasil. “É a mania de refundar tudo. Lula não começou o Brasil de novo?”, ironizou. “Agora todo mundo quer refundar. Isso é conversa, precisa melhorar, precisa aperfeiçoar.”

Virada. Outra palavra que esteve na moda em 2010, e numa variedade de situações, todas elas destinadas a atrair um grande público. Para começar, Virada Cultural foi a expressão que a Casa de Cultura Mário Quintana usou para a maratona de atividades que comemorou 20 anos da instituição, incluindo shows musicais, encenações teatrais, sessões de cinema, oficinas, workshops, atividades infantis. Viradas culturais ocorreram também em São Paulo, em Curitiba e em outras cidades. Em outubro realizou-se, em São Paulo, a Virada Imobiliária, um evento que disponibilizou abundante crédito para a aquisição de imóveis.

Em novembro, São Paulo realizou a Virada Esportiva 2010: 36 horas de atividades esportivas e recreativas em vários lugares da capital paulista. E a loteria de fim-de-ano foi a Mega-Sena da Virada. Muita virada, portanto.

Qual o denominador comum dessas palavras? É a mudança. O Brasil quer mudar, e está mudando. Com algumas exceções (a explosão da droga, a corrupção, os problemas do trânsito) as mudanças tem sido benéficas. Estamos nos refundando, estamos nos reinventado, estamos na virada. E isto, considerando o triste passado do nosso país, é muito bom. Antecipa um grande 2011.

O Dr. José Diogo Cyrillo da Silva lembra que no ministério Dilma há pelo menos um nome que condiciona destino: o do ministro das Relações Exteriores, Antonio Patriota. Aliás, condiciona o destino de uma família: vários de seus integrantes dedicaram-se ao serviço diplomático.

Oscar Pinto Jung retifica: a escritora Perpetua Flores, que divulga nossa literatura na Argentina, não é de lá, mas sim de Santo Ângelo. Agenda do ano: é a da L&PM, que homenageia, de forma artística, Martha Medeiros.

Se a poesia muda o mundo, e muda, teremos , “um trajeto luminoso até o fim dos tempos”, nas palavras do poeta Luiz de Miranda. Agradeço as mensagens de Luiz Baú, Aron Teitelbaum, Pena Cabreira, Péricles da Cunha, Gilda Haubert, Carla Mannino, Alberto Oliveira, prof. Waldomiro Minella. E muito obrigado, leitores, pelas centenas de mensagens de fim de ano. Boas entradas para vocês.

Um verdadeiro “tour de force” é a obra “William Shakespeare: as múltiplas faces de um gênio”, editado para o grupo Zaffari por Luiz Coronel, com apoio de uma grande equipe e planejamento da Opus. O belíssimo volume reúne frases famosas do bardo de Avon, entremeadas com textos sobre a obra shakespeariana. Imperdível.

Este ano viu a consagração definitiva de Vida, a canção da RBS para a passagem do ano. Um verdadeiro hino de esperança.

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