Aqui voces encontrarão muitas figuras construídas em Fireworks, Flash MX, Swift 3D e outros aplicativos. Encontrarão, também, muitas crônicas de jornais diários, como as do Veríssimo, Martha Medeiros, Paulo Coelho, e de revistas semanais, como as da Veja, Isto É e Época. Espero que ele seja útil a você de alguma maneira, pois esta é uma das razões fundamentais dele existir.
quarta-feira, 4 de novembro de 2009
04 de novembro de 2009 | N° 16145
JOSÉ PEDRO GOULART
O fogo que devora
Rapazes (e moças) xingaram e ameaçaram uma garota porque ela estava usando minissaia numa faculdade em São Paulo. A provocação inicial, provavelmente infantil, acabou se tornando um ato violento e incabível de histeria coletiva. O senso comum das opiniões viu na atitude uma barbárie. Mas o senso comum não entende – ou não quer saber – as razões dos bárbaros.
Há incêndios arrasadores que começaram com uma simples ponta de cigarro mal apagada. Mas o início banal não faz com que o fogo seja irreal. No episódio, a bagana veio na forma de um chiste, uma piada. O que se sucedeu é o que importa: “Um fogo devora um outro fogo”.
“A pregação da castidade é um incitamento público à antinatureza”, disse Nietzsche. A sociedade, tal qual está baseada, espera que haja um convívio harmônico entre homens e mulheres antinatural. Afinal, apesar de toda aparente liberação sexual, o episódio da moça na faculdade de São Paulo, uma simples minissaia, e a bizarra reação dos colegas, revela um convívio longe de estar pacificado. Vez por outra escapa a válvula da panela de pressão.
Um par de pernas inacessível, inatingível, mas desejado. Todos os dias há milhares de pernas assim. Como há peitos, bundas. Cada corpo exposto é um convite ao desejo, mas logo uma ordem interna antagônica exige que ele se dissipe. Somos constantemente atiçados no nosso fogo, e a nossa consciência age como bombeiro. “Todo o desprezo pela vida sexual, toda impurificação da mesma através do conceito de ‘impuro’ é o próprio crime contra a vida”, prossegue o bigodudo.
Nos corredores da faculdade, onde um indivíduo vira 10, como se houvesse um rastro de pólvora ateando fogo por tudo apareceu uma chance de vingança. Não contra a garota, menos ainda pela minissaia. Mas pela frustração de “todas” as promessas não cumpridas. Gritaram pelo mesmo motivo que um automóvel caro é riscado na rua: por raiva.
Gritaram de raiva pelas pernas lisas impossíveis. Pelas coxas expostas, provocativas e inacessíveis. Gritaram para sufocar o desejo.
E, assim, o que no início era frívolo, provocado por um pequeno grupo, acabou gerando a ação de um exército abominável e violento. Como se fosse uma erupção da lava incandescente de tudo que havia de indomado dentro deles. E que há em cada um.
Hoje à tardinha na Feira da Livro, 18h30min, haverá o lançamento do meu novo livro: A Voz que se Dane, L&PM. Minissaias estão liberadas. Apareça.
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