segunda-feira, 4 de agosto de 2008



GIL, O EX-MINISTRO

O incrível aconteceu: Gilberto Gil deixou o Ministério da Cultura. A maior parte da população nem sabia que ele ainda estava lá. Na verdade, Gil passou em branco pela Pasta mais inexpressiva da Nação.

Foi um ministro decorativo. Estava no governo apenas para servir de enfeite. Gil inaugurou uma categoria capaz de fazer história: o ministro samambaia. Ficou lá, mais de quatro anos, fazendo papel de celebridade.

Vez ou outra, quando tinha visita, o presidente da República, feito um pai orgulhoso do seu pimpolho, mandava-o fazer algumas gracinhas: 'Canta aí, Gil, para o Bush ver. Vai, canta, estou pedindo...'. E Gil dava uma palhinha, meio sem jeito, sem cachê, só pela vaidade de ser ministro.

Esta é a diferença entre Gil e Caetano: um gosta do poder enquanto o outro, sempre que pode, maltrata o poder. Caetano está cada vez mais acadêmico, empolado, magistral. Gil estava cada vez mais parecido com um político: usava terno e gravata, falava muito e dizia pouco.

Não compunha nada. Lulla, na despedida, soltou mais uma das suas: o Ministério da Cultura era pequeno demais para a grandeza de Gilberto Gil. Visto noutra perspectiva, o Ministério da Cultura foi grande demais, um latifúndio improdutivo, para a pequenez administrativa de Gil.

O baiano não passou de mais um golpe de marketing. Não estava no ministério para fazer. Cabia-lhe simplesmente posar. Sua missão era ser Gilberto Gil a serviço do governo para embasbacar os estrangeiros.
Pois não é que Gil se prestou a esse papel deprimente? É a teoria do outro lado. Quem está do lado de cá, quer ver o lado de lá.

E vice-versa. Gil passou para o outro lado do balcão, onde viveu uma frenética temporada de tédio, de intermináveis audiências, de apertos de mãos suadas e de ausência de qualquer política cultural. Conheceu, enfim, os bastidores das grandes decisões. Há uma lista considerável de bons sucessores para ele: Gisele Bündchen, Romário, Adriane Galisteu, Ratinho, Pedro Bial, Fernando Moraes e Paulo Coelho.

Eu, se tivesse de decidir, hesitaria entre Romário e Paulo Coelho. Qualquer um deles daria um excelente ministro samambaia. Só Gisele faria melhor e chamaria mais a atenção. Eis o que realmente separa o governo federal e o governo gaúcho.

Enquanto aqui a Secretaria da Cultura está nas mãos de uma especialista em segurança pública, no plano federal a cultura ficou todo esse tempo nas mãos de ninguém. Quer dizer, de uma estrela. O que pode ser pior? Quem brinca mais com as ilusões do campo cultural?

Como ministro, Gil foi mesmo um excelente cantor, embora tenha perdido um pouco da prática. Como se dizia antigamente, ele abrilhantou muitas viagens do chefe. Era um luxo ter à mão um artista como Gil para embalar as festas e mostrar ao mundo o que é que o baiano tem. Gil saiu tranqüilo. Não deixou saudades. Dificilmente sofrerá críticas.

Todos desconhecem o seu trabalho no MinC. Logo, rigorosamente falando, não podem atacá-lo. Pensando bem, o melhor sucessor para ser ele seria Zeca Pagodinho. Já pensaram o entendimento que ocorreria entre o novo ministro da Cultura e o presidente da República?

Juntos, eles governariam por música, no mesmo ritmo, na mesma cadência, na mesma zeca-hora. O interesse do Planalto pelo Ministério da Cultura aumentaria. O governo ganharia um slogan: 'Deixa a vida nos levar, ó vida, leva nóis!'.

juremir@correiodopovo.com.br

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