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sábado, 16 de agosto de 2008
16 de agosto de 2008
N° 15697 - PAULO SANT’ANA
Engolindo sapos
Chama a atenção a agressividade de certos motoristas que parecem se atirar às ruas para arranjar brigas.
Dizem que as mulheres não dirigem bem, mas nunca vi uma mulher ser agressiva no trânsito. Ela pode até atrapalhar as manobras, mas não é capaz de ser acintosa em gestos e palavras. Eu, por exemplo, não tenho nenhum medo de mulher no trânsito.
Já com os homens, não é o mesmo. Durante a vida, já tive dezenas de conflitos com motoristas masculinos.
Ontem, por exemplo, por duas vezes, fui xingado veementemente por dois motoristas. O certo é a gente não andar armado, nem com um revólver, nem com um pedaço de ferro.
Uma arma no porta-luvas ou em qualquer parte do carro é passaporte certo para a tragédia.
Eu já tenho saído de casa disposto a suportar ofensas e mal-entendidos no trânsito. Qualquer reação mais forte que eu tiver vai redundar num desastre de comportamento.
Então tento me munir de uma serenidade que consiste em ser ofendido sem reagir. O sujeito me xinga, me diz desaforos de longe, sinto ímpetos de manobrar meu carro e persegui-lo. Mas me contenho, não vale a pena.
Estou diplomado em engolir sapos no trânsito.
Uma colega minha estava me contando esses dias, no fumódromo, que o caudal de ofensas que se desata no seu condomínio e no edifício ao lado, durante e principalmente logo após um Gre-Nal, é algo de assustador.
Os seus vizinhos abrem suas janelas e vão gritar para os outros do mesmo edifício ou do prédio ao lado os piores palavrões, de corar frades-de-pedra.
Então ela já sabe, basta haver um Gre-Nal para o ajuste violento de contas verbais ser instalado com uma agressividade ímpar.
É que milhares de pessoas são dotadas de sérios distúrbios emocionais de irritabilidade agressiva.
Nós não as conhecemos, por isso não somos alvos nem vítimas delas. Mas, se somos vizinhos dessas pessoas, cedo explodirão os conflitos.
E o trânsito é o momento adequado para que se instalem esses conflitos. Pessoas que não conhecemos, que não nos dizem nada e portanto não têm como nos importunar ou agredir. Com milhares delas, no entanto, nos enfileiramos e cruzamos no trânsito.
E então o trânsito vira o momento exato para toparmos com essas pessoas disturbadas, mal-humoradas, agressivas, violentas.
Se nós também formos portadores de distúrbios emocionais ou não tivermos paciência, resignação, conformismo, está formado o bolo, que vai num crescendo da ofensa e da lesão corporal até o homicídio.
Tem muita fera solta por aí no trânsito, o melhor é não aceitar provocações, como aliás tenho presenciado em muitas pessoas sensatas, que preferem ouvir ofensas a enfrentar os agressores.
Se enfrentarem, não se sabe se encontrarão compreensão em quem for julgar esse confronto.
Portanto, feche os vidros das portas do carro, evitando ouvir as ofensas e provocações, e siga em frente. Não vale a pena incomodar-se.
Porque existe muita gente neurótica – milhares – que sai para as ruas no volante para comprar brigas.
Que comprem com outros.
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