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sexta-feira, 1 de agosto de 2008
01 de agosto de 2008
N° 15680 - PAULO SANT'ANA
Lei seca em debate
Grêmio 1 a 0 contra o Coritiba. É a quarta vitória do Grêmio fora de casa no campeonato. Onde vai parar este time do Celso Roth? Parece que o céu é o limite.
Desculpem-me os leitores, mas, alertado por outros leitores e por colegas de Zero Hora, volto atrás nas restrições que fiz ontem à mensagem que me foi enviada pelo deputado federal Pompeo de Mattos.
Tinha lógica a mensagem que me mandou o deputado, ele colheu dados estatísticos brasileiros e franceses, pelos quais foram encontradas em grande parte dos mortos em acidentes de trânsito enormes quantidades de álcool no sangue.
O que o deputado pretende é que não sejam punidos pela Lei Seca motoristas que tenham pouca quantidade de álcool no sangue, os chamados bebedores sociais.
Dificilmente se encontra um assunto mais palpitante do que a Lei Seca. Todos se interessam vivamente por este tema, fiquei com minha mesa lotada de e-mails, muitos contrários à tese do deputado Pompeo, mas muitos favoráveis.
O debate é interessantíssimo. O leitor Mário Pinheiro, jornalista e contador (wpinheiro@terra.com.br), acha que é preciso punir quem provoca acidentes ao dirigir bêbado ou comete violências em campo de futebol, em bar ou dentro de sua própria casa.
"Mas daí a se criarem leis que, em última análise, querem acabar com o direito de lazer das pessoas é instaurar o regime do tédio e da depressão, sob a égide de um "fanatismo puritano".
Não se pode mais fumar, não se pode mais beber em estádio de futebol, não se pode ir mais a uma festa ou a um restaurante ou a um bar. Argumentar que basta voltar de táxi para a casa é defender a elitização do lazer. Por que não voltar para casa com motorista dirigindo o automóvel? - perguntam. Os ricos assim o fazem. Mas a lei é para todos, não?"
E finaliza inteligentemente: "Será que não vão aumentar alguns índices de violência quando se implantar de vez o regime de intolerância ao 'lazer zero', com a ampliação das neuroses, pois o lazer e o prazer funcionam como meios de sublimação dos problemas existenciais do cotidiano das pessoas? Só falta criarem lei para proibir toda e qualquer ingestão de bebidas, na base do 'se beber, não saia'".
Na mesma linha, vai o leitor Leandro Flores (floresleandro@ig.com.br): "Tenho convicção de que os índices de acidentes/mortes seriam reduzidos na mesma proporção atual se fosse feita igual e rigorosa fiscalização, tolerando os 0,6dg/l, previstos na lei anterior.
Assim, não seriam punidos aqueles que sabem controlar seus limites (os bebedores sociais). Por fim, entendo que a impossibilidade de que as pessoas bebam em pequenas quantidades ocasionará a longo prazo uma mudança sociológica enorme na população brasileira.
Seremos menos sociáveis, teremos menos contatos com os amigos, passaremos a viver mais isolados. Perderemos uma característica de cordialidade brasileira admirada por todos no mundo.
As mortes por suicídio e principalmente aquelas decorrentes da depressão irão aumentar paulatinamente e, o que é pior, estas últimas não serão relacionadas à privação do álcool/direção".
Mas há muitos leitores que apóiam a lei drástica que foi adotada. No entanto, embora não saiba se haverá eco para essas reclamações acima expostas, é relevante a tese de punição somente para os pileques, "respeitando a higiene mental proporcionada por pequenas doses de álcool compartilhadas com amigos ou cônjuges", como pregam vários leitores.
Os defensores das pequenas doses botaram seu bloco na rua, aproveitando-se da brecha retórica proporcionada pelo deputado Pompeo de Mattos. É um debate que ameaça não terminar nunca.
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