Aqui voces encontrarão muitas figuras construídas em Fireworks, Flash MX, Swift 3D e outros aplicativos. Encontrarão, também, muitas crônicas de jornais diários, como as do Veríssimo, Martha Medeiros, Paulo Coelho, e de revistas semanais, como as da Veja, Isto É e Época. Espero que ele seja útil a você de alguma maneira, pois esta é uma das razões fundamentais dele existir.
terça-feira, 11 de março de 2008
11 de março de 2008
N° 15537 - Liberato Vieira da Cunha
Ilha de lembranças
Que lembranças eu levaria para uma ilha deserta?
Começaria pelas notas de um piano que nunca descobri de onde vinham, mas que acalentavam minhas noites e embalavam meus sonhos de adolescente. Eram um mistério perfeito e tudo o que é perfeito não precisa ser decifrado.
Não esqueceria o som do bonde subindo devagar a Rua Duque, um pedaço de luz rompendo a escuridão, um compasso lento pautando o tilintar das moedas, as conversas dos últimos passageiros, o suspirar de uma menina cujo nome era solidão.
As pedras azul e rosa da Rua João Manoel eram um livre, cambiante território, ora pavimento de campeonatos de futebol, ora a passarela por onde desfilavam os casais de enamorados. Mas aí veio o asfalto e cobriu tudo e já não se ouviram nem gritos nem sussurros.
As reuniões dançantes de sábado à tarde, os bailes da Reitoria constituíam um ritual romântico que culminava num gesto de ternura explícita: a face colando-se com a face. E o mundo girava então em azul profundo.
Os discos de vinil e as músicas que eles continham, de The Platters a Appassionata. Havia neles algo de sólido e de delicado, como um livro ou uma tela, e exerciam um tipo de fascínio a que só se sobrepunha o das próprias melodias.
As férias de julho em Cachoeira, quando nasciam amizades que iriam se prolongar por toda a vida e eclodiam paixões súbitas como as que só podem acontecer aos 16 anos na cidade que reunia as mais belas garotas do universo.
As primeiras visitas a Montevidéu, uma metrópole em plena florescência, que a cada quadra e esquina tinha um gosto que depois se perdeu. Ali era o Exterior. Ali era a civilização, em cada vitrine e confeitaria e loja e nas pessoas que se vestiam como se vivessem em Madrid.
As crônicas da revista Manchete. Rubem Braga, Fernando Sabino e Paulo Mendes Campos produzindo a cada semana pequenas obras-primas que tornavam a literatura um artigo de primeira necessidade.
E os filmes da Grace Kelly.
E mais não digo porque a ilha se tornaria pequena para o tamanho de minha nostalgia.
Ainda que com chuva, mas com temperatura bem mais amena, que tenhamos todos uma excelente terça-feira.
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