segunda-feira, 10 de março de 2008



10 de março de 2008
N° 15536 - Paulo Sant'ana


Os que nunca foram pobres

Ontem fiquei observando durante horas algo que já fazia parte de minhas pesquisas: o tédio das pessoas que nunca foram pobres.

As pessoas que nunca foram pobres não têm nenhuma possibilidade de serem felizes.

Teoricamente elas não são infelizes, por serem ricas. Mas, por não possuírem a referência da pobreza, não sabem que são felizes.

E não saber que se é feliz é quase a mesma coisa do que ser infeliz.

A esse tédio que domina principalmente os domingos pachorrentos dos que nunca foram pobres, junta-se, freqüentemente nos mesmos ambientes, um outro tédio: o dos que não são infelizes no casamento, mas também não são felizes.

É o tédio dos que calculam que, se fossem solteiros, dariam então melhor aproveitamento às suas vidas do que depois que se casaram pela última vez.

É o tédio da energia desaproveitada.

O tédio dos que enganam a infelicidade e às vezes até o infortúnio com um churrasquinho no domingo, um viagrazinho na segunda-feira, "a gente vai levando, empurrando com a barriga, vamos ver como é que vai terminar".

Os meus melhores amigos se espantam que eu tenha mais compaixão dos que nunca foram pobres do que propriamente dos pobres.

Explico: os que nunca foram pobres não têm a mínima possibilidade de virem a ser felizes, enquanto os pobres tanto podem vir a ser felizes continuando a ser pobres quanto correm o risco de enriquecerem.

Sinto uma abissal comiseração pelos que nunca foram pobres.

Um conhecido colunista de Zero Hora foi preso por alguns minutos nos anos de chumbo, governo Costa e Silva.

Foi denunciado por um vizinho sob a acusação de que escondia nas paredes e armários de sua casa uma imensa quantidade de bandeiras vermelhas.

Recebida a denúncia pelo Dops, os policiais invadiram a residência do colunista de Zero Hora.

Tiveram rotunda decepção os policiais: todas as bandeiras eram do S. C. Internacional.

Antes de saírem e se desculparem, os policiais ouviram do cronista colorado de Zero Hora o rogo de que não divulgassem para ninguém o episódio.

Escrevo porque me pedem explicações na rua sobre o assunto. Esses dias, quando o treinador Celso Roth foi contratado pelo Grêmio, eu estava de férias, mas uma emissora de grande audiência me entrevistou e me perguntou sobre o que achava do novo técnico tricolor.

Faz uns 20 dias. Eu disse exatamente o seguinte, para espanto dos que conhecem a minha oposição a Celso Roth: "Foi a melhor solução para o Grêmio. Eu conheço as esquisitices táticas de Celso Roth.

E sei das soluções exóticas que ele adota para os problemas do time que treina. Mas o Grêmio vive um momento tão supliciante, que acredito ser Celso Roth a menos ruim solução. E há a chance no horizonte de que ele venha a ser a melhor das soluções".

E mais não me comprometi.

Faço esse registro para que não fofoquem mais sobre minha opinião.

Deixem o homem trabalhar.

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