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quarta-feira, 5 de março de 2008
05 de março de 2008
N° 15530 - Paulo Sant'ana
Noite feliz
Eu nunca disse que cantei bem com Julio Iglesias. Isso nas duas primeiras vezes que cantei com ele. Mas ontem tive o orgulho de ter cantado bem com Julio Iglesias. Ele não envelhece. Ele não pode envelhecer.
Cantei com Julio Recuerdos de Ipacaraí. Desta vez ele estava bem ensaiado. E quando saí lá fora antes de o show começar e me esqueci do tom da música, acudiu-me no hall do teatro o maestro Miguel Proença, a quem cantei o primeiro verso da música e ele, como um diapasão vivo, me disse: "É si bemol".
Aí fui lá no estacionamento, troquei minha camisa por uma blusa verde coruscante e enfrentei o público, que me aplaudiu com grande entusiasmo.
Não existe nada mais prazeroso na vida do que cantar em público. E pegar carona com um ícone latino como Julio Iglesias é uma broma, como dizem os argentinos, é uma brincadeira séria, porque toca no coração.
E Recuerdos de Ipacaraí, na minha voz, porque Julio Iglesias me largou sozinho no palco cantando, foi uma bela recordação para o público esse grande sucesso paraguaio.
Vai, Julio Iglesias. Mas volta. Tu és de uma raça espanhola imbatível, no palco e na arena. E como nas arenas espanholas surge de vez em quando, atirando-se no palco, um espontáneo, um espectador que se atreve a tourear o touro, surgi no palco ontem, a chamado de Julio Iglesias, sem o pano, o espontâneo de Porto Alegre.
Vai Julio Iglesias. E volta. E num dia em que eu não mais existir, algum gaúcho há de cantar contigo também no palco, porque esta raça farroupilha é tão brava quanto a raça da terra de Cervantes.
Como todos sabem lá em Uruguaiana e muitos ficaram sabendo em todo o Estado, a escola de samba campeã do desfile de 2008 foi a Ilha do Marduque, na qual desfilei e recebi do povo na Avenida, modéstia à parte, uma verdadeira consagração.
No julgamento do desfile, a Ilha do Marduque ganhou o primeiro lugar, com uma diferença sobre a segunda colocada de apenas dois décimos.
Há 10 anos sem ser a campeã, ganhou por apenas dois décimos de diferença.
E todos se perguntam perplexos em Uruguaiana: "Mas qual terá sido a diferença?".
Ora, pois, pois...
A velhice não se compara à juventude em tudo, mas onde mais se sofre quando se é velho é na distância que se estabelece com o prazer sexual.
Há duas espécies de criaturas que sofrem por não ter poder sexual igual ao dos jovens: os velhos e as crianças. Nos dois extremos da vida, portanto, aquele que é considerado o maior prazer dado por Deus aos homens e aos animais, o sexo, é negado a seus integrantes.
A criança nem sente a diferença, por nunca ter saboreado o êxtase da sensualidade.
Mas a sorte dos velhos é cruciante: eles não podem mais desfrutar um prazer que lhes deleitou em grande parte da vida.
Como em tudo, quem já teve e não tem mais sofre triplamente, por já ter conhecido a felicidade e não poder mais usufruí-la.
Assim é com o dinheiro: sofre muito mais um rico que se tornou pobre do que um pobre que sempre foi pobre.
É aquela história: quem nunca comeu mel, quando come se lambuza.
E quem vive comendo mel nem dá importância mais para aquela doçura.
E assim corre a vida pontilhada de ânsias e fastios.
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