terça-feira, 4 de março de 2008



04 de março de 2008
N° 15529 - Moacyr Scliar


Diferença não é inferioridade

Nesta sexta-feira estarei na Petrobras, em Canoas, participando de uma homenagem ao Dia Internacional da Mulher. Apropriado: a luta pela emancipação da mulher tem muitos pontos em comum com a memorável campanha pelo petróleo que, no início dos anos 50, levou multidões às ruas e alcançou êxito com a criação de uma empresa que neste ano completa 55 anos de vitórias.

Vitórias as mulheres também obtiveram e algumas delas, como o sufrágio universal, foram importantíssimas. Mas a verdade é que a briga continua e às vezes assume formas inesperadas.

Há três anos, Lawrence Summers, então presidindo a prestigiosa Universidade de Harvard, provocou uma polêmica mundial ao dizer que as mulheres não tinham êxito em ciências e em matemática por "causas inatas".

A afirmação lhe custou o cargo, mas a discussão continua: mulheres pensam, e sentem, da mesma forma que os homens? O cérebro das mulheres é igual ao dos homens?

São milhares de estudos e de pesquisas contradizendo-se mutuamente e colaborando para manter a confusão e o preconceito.

Admitindo que existam diferenças, surge o dilema do tipo galinha-ovo. Se o cérebro da mulher é diferente, será isto o resultado de um determinismo biológico, do evolucionismo que leva a uma divisão de papéis entre homem e mulher, ou é uma coisa adquirida, reflexo anatômico e fisiológico de uma situação cultural?

A mulher pensa diferente porque o seu cérebro é diferente, ou seu cérebro é diferente porque a mulher foi levada a pensar diferente, em função do papel que lhe foi historicamente imposto?

A segunda e muito importante coisa que precisa ser dita é: diferença não significa inferioridade. O que pode acontecer, e aconteceu com a cor, no caso dos negros, é que uma diferença se torna estigma. Uma pele escura é inferior a uma pele branca?

Não há lógica nisso. Ao contrário, considerando o problema dos raios solares, a melanina até funciona como proteção.

Diferenças permitem que as pessoas se completem, que busquem no outro aquilo que falta nelas próprias. Mostra-o aquela antiga lenda grega, segundo a qual, no começo dos tempos, o homem e a mulher eram um único, e poderoso, ser, o que levou os deuses a dividir este ser em duas metades; desde então estamos em busca de nossa cara metade.

Hoje os deuses seriam menos drásticos e mais espertos: lançariam uma teoria qualquer, tipo Lawrence Summers. E depois ficariam se divertindo com o debate.

A propósito da minha coluna no Donna, sobre a Dra. Rita Lobato, gaúcha que foi a primeira médica a se formar no Brasil, escreve a psiquiatra Laís Legg da Silveira Rodrigues, cumprimentando pelo texto e observando:

"Apesar da brilhante trajetória, apenas uma ruela homenageia-a em Porto Alegre. Em contrapartida, importantes ruas e avenidas de nossa cidade levam o nome de médicos homens".

A lista de Laís abrange 25 nomes, entre eles os de Annes Dias, Sarmento Leite, Oscar Pereira, Mrio Totta, Aureliano de Figueiredo Pinto, Ramiro Barcelos, Protásio Alves. Está aí mais um critério, aliás original, para avaliar a igualdade (ou a desigualdade) entre gêneros.

Já a Dra. Gabriela Guimarães, que, como a Dra. Rita, fará gineco e obstetrícia, conta que, em sua infância na cidade de Rio Grande, muitas vezes acompanhou a mãe, que era funcionária do posto de puericultura. Nome do posto? Dra. Rita Lobato. Simbólica coincidência.

Sensato e oportuno o pronunciamento do chanceler Celso Amorim a respeito do conflito Colômbia - Equador - Venezuela.

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