A BUSCA DE CONSENSOS
É notório que uma das principais dificuldades para manejar a crise da covid-19 no país é a falta de alinhamento entre o governo federal e os demais entes federados. Se esta harmonia parece ser difícil de ser obtida em nível nacional, seria de se esperar que ao menos no Rio Grande do Sul fosse possível alcançá-la, para o bem dos gaúchos. Discordâncias eventuais são legítimas e até esperadas, mas o ideal sempre em episódios traumáticos como o atual seria uma convergência mínima entre as principais autoridades, para que não sejam passadas mensagens conflitantes à população.
É bem-vinda, portanto, a sinalização de trégua entre o governador Eduardo Leite e o prefeito de Porto Alegre, de Sebastião Melo, pelo menos no tema da pandemia. Espera-se que o apaziguamento, selado ontem pela manhã em um café da manhã no Palácio Piratini, com a presença ainda do presidente da Assembleia, Gabriel Souza, e do chefe da Casa Civil do Estado, Artur Lemos, seja permanente e produza resultados práticos. Ou seja, que a bandeira branca permita confluência de ações entre Estado e administração municipal da Capital, uma unidade que também deveria se repetir em relação a todas as demais prefeituras do Rio Grande do Sul e o Executivo estadual.
Tensionamentos e divergências são normais em uma democracia. Mas, quando à frente está um insidioso inimigo comum e o momento é de uma gravidade inédita, o grande dever dos gestores públicos responsáveis é buscar consensos e pontos em comum, objetivando o bem-estar da população e, ao mesmo tempo, a preservação do tecido econômico. Não há, como ainda pregam algumas vozes isoladas, dicotomia entre saúde e economia. Encontrar as formas mais adequadas de preservar ambas, com o melhor resultado para os gaúchos de todos os municípios do Rio Grande do Sul, é uma tarefa que deveria unir. Jamais separar.
Leite e Melo, como democratas, têm de, como fizeram ontem, dialogar e procurar, com bom senso, as melhores medidas ao alcance. O indicado será que, a partir de agora, por exemplo, arestas sejam aparadas na conversa franca, sem que seja necessário buscar o Judiciário, o que sempre desgasta ainda mais as relações. Melo assume no início de abril a presidência do Consórcio dos Municípios da Região Metropolitana de Porto Alegre (Granpal) e, com isso, ganha uma representatividade ainda maior, da região mais populosa e densamente povoada do Rio Grande do Sul. Mais do que desejável, é essencial que partam para um bom entendimento.
É positivo o gesto de Leite de convidá-lo para participar das reuniões do Gabinete de Crise do Piratini. Permitirá ao prefeito da Capital ter uma visão mais ampla do Estado e, ao mesmo tempo, opinar. A seriedade da crise sanitária, que gera centenas de mortes todos os dias no Estado, exige que toda a energia seja direcionada para deter o vírus e suas consequências sinistras na saúde, nos negócios e nos empregos, e não para disputas improdutivas.
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