13 DE MARÇO DE 2021
FLAVIO TAVARES
PANDEMIA POLÍTICA
A expansão da pandemia é tão alarmante e mata tanto, que, agora, inunda a política como se festejasse (em triunfo) o primeiro aniversário do seu aparecimento no Brasil.
De um lado, regredimos à eleição de 2018, quando a maioria confiou, de boa-fé, nas palavras de Bolsonaro, que hoje se revelam reles fantasias ou mentiras. De outro - e mais grave -, nos faz esquecer da inépcia do governo federal para vacinar a população e evitar o contágio.
O mais daninho, porém, é desacreditar - ou exterminar - a Operação Lava-Jato, tal qual propõe o ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal, como relator do pedido dos advogados de Lula da Silva de declarar "a suspeição" do então juiz Sergio Moro.
Gilmar Mendes foi enfático: "Por razões mais do que espúrias, Moro menosprezou o sistema judicial e extrapolou os limites ao assumir o papel de coordenador dos órgãos de investigação e acusação".
Aceitar essa tese é destruir a investigação que revelou como grandes empresários e políticos se juntaram num sórdido conluio cujo único fim era a rapina. Perto dela, a decisão do ministro Edson Fachin, do STF, de anular os processos que condenaram o ex-presidente Lula da Silva, torna-se diminuta.
Anular os processos conduzidos em Curitiba sobre Lula (sob o argumento de que não tinham relação direta com o "petrolão", como fez Fachin) leva a reabri-los em Brasília. Mas a "suspeição" do juiz Moro (como quer Gilmar) arrasa com tudo o que a Lava-Jato apurou sobre Lula e outras trapaças, pois o futuro juízo no DF nada poderá usar dos processos de Curitiba.
No lento recomeçar do zero, os processos prescreverão e Lula sairá ileso, beneficiado pelas prescrições. Outras condenações da Lava-Jato poderão ser extintas e, talvez, até, os ladrões reivindiquem os bilhões roubados que eles próprios devolveram em delações premiadas?
Assim, o efeito colateral da "suspeição" de Moro leva a pandemia à política e ao sistema judicial.
Tão inexplicável quanto saber de onde surgiu a covid-19 é entender a tentativa de transformar Sergio Moro em "demônio".
A decisão de Fachin não inocenta o ex-presidente Lula e só aponta eventual falha processual. O Supremo levou, porém, cinco anos para "descobrir" que o roubo na Petrobras não tinha relação direta com o apartamento triplex dado a Lula como aparente suborno.
O juiz não cerceou a defesa do réu, só quis ir ao cerne da trapaça. Mas, agora, o Supremo Tribunal pode, talvez, transformar o juiz em réu, invertendo a ordem natural da Justiça.
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