sábado, 20 de março de 2021


20 DE MARÇO DE 2021
CLAUDIA TAJES

Porto Alegre indoor

E vem chegando mais um aniversário dela, a nossa querida cidade. Essa Porto Alegre que, há um ano, quem pode vê apenas de passagem, indo e voltando rápido para se expor o mínimo possível ao vírus.

A data é 26 de março, só na outra semana, eu sei. Mas em tempos de confinamento, qualquer possibilidade de assunto vira crônica. Mesmo que seja um assunto adiantado. Cada dia é um dia e cada ideia é uma ideia, quando se vive a pandemia.

A Porto Alegre de antes estaria agora em plenos preparativos para o baile de aniversário da Redenção. Tinha gente que esperava essa festa com a mesma ansiedade com que alguns sonham com o Carnaval. Quantos casais não se apaixonaram para sempre, casaram e se separaram em apenas uma noite, no baile da Redenção?

Outra atração de aniversário seria o show na orla, que lotaria para ver, quem sabe, o Frank Jorge de disco novo, a Negra Jaque maravilhosa e tantos novos artistas que foram obrigados a trocar os palcos pelas lives. Mas orla lotada é coisa do passado - para quem tem pressa de ir para o futuro. As filas de cinco horas no cartório para o registro de óbitos na madrugada do último sábado (13) são uma triste prova de que não se pode mais negar a gravidade da situação.

Falando nisso, é preciso lembrar o momento negacionista de Porto Alegre, que disponibilizou o kit de tratamento precoce nos postos de saúde. Felizmente, a Justiça mandou apreender o coquetel "enquanto não existirem evidências robustas, baseadas em pesquisas clínicas e reconhecidas pela comunidade científica, da eficácia deles para o tratamento precoce da patologia". Invertendo a palavra de ordem dos negacionistas, não nos venham com cloroquina, a gente quer a vacina.

O jeito tem sido curtir Porto Alegre da porta para dentro, embora a vontade do lado de fora. Nunca se viu tanto pôr do sol postado nas redes. Tantas fotos de flores, plantas, as árvores da cidade. Tantas imagens do rio Guaíba, que pode até ser lago, mas a gente segue chamando de rio. Não por cabeças-duras, mas por amor.

Ficar em casa ganhou a companhia dos podcasts. Um dos mais interessantes foi criado por duas professoras de física da UFRGS, Carolina Brito e Marcia Barbosa. A Ciência Como Ela É - A Saga de Carlota conta a história ficcional da Carlota, que enfrenta inúmeros desafios para se tornar cientista. No elenco, Mel Lisboa, Ilana Kaplan, Nany People e muitos outros nomes, com direção de Ricardo Severo. A temporada tem 10 episódios e sai todas as segundas. Para ouvir: ufrgs.br/asagadecarlota.

Noites Gregas é o podcast do professor Cláudio Moreno que ganhou fama e, espera-se, fortuna, divulgado em todo o país. Merecidamente, porque cada episódio nos leva para a Grécia dos deuses em uma viagem que poderia durar a vida inteira. Para ouvir: noitesgregas.com.br.

As noites de terça continuam animadas pelo Sarau Elétrico, que saiu do Ocidente para chegar longe no Youtube - mas só enquanto durarem os estoques de vírus. Com Katia Suman, Luís Augusto Fischer e Diego Grando mostrando a mesma picardia dos saudosos tempos do ao vivo. Ainda na linha literária, o professor Sergius Gonzaga entrevista autores, críticos e pessoas que não negam a cultura em Os Livros da Nossa Vida. Vale ver a série toda e acompanhar os novos episódios em fb.com/gonzagasergius.

E que tal uma peça virtual com ingressos gratuitos para quem quiser ir ao teatro na quarentena? Se Não Agora, Quando?, da atriz gaúcha radicada no Rio Marcélli Oliveira, aborda com leveza temas delicados como a solidão e a falta de perspectivas através de uma personagem que acompanha, da janela do seu apartamento, a vida de seus vizinhos. Basta reservar os ingressos em bit.ly/senaoagora. A temporada vai até 28 de março.

Porto Alegre completa seus 238 anos já com um novíssimo Ministro da Saúde fazendo declarações dúbias sobre isolamento e tratamento da doença. Há quem diga que, pior do que está, não fica. Não é o que indicam as previsões para as próximas semanas. Por via das dúvidas, melhor comemorar o aniversário da leal e valorosa em casa. Para a gente se atirar de cabeça na cidade quando isso tudo passar.

CLAUDIA TAJES

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