27 DE MARÇO DE 2021
FLÁVIO TAVARES
O MAL REUNIDO
Há momentos em que os absurdos brotam por todos os lados, reunindo maldade e horror. Agora, por exemplo, a pandemia se propaga e ataca com diferentes cepas, fazendo da tétrica "média móvel de mortes" um hábito diário.
Mas o tumor do horror cresce, também, por atos dos que deveriam ser guardiães da ética, como a decisão da Segunda Turma do Supremo Tribunal declarando o então juiz Sergio Moro como "parcial" ao condenar o ex-presidente Lula da Silva. O inexplicável foi a mudança de voto da ministra Cármen Lúcia, que desfez o que fizera e, de repente, entendeu que o juiz foi "parcial".
A Lava-Jato foi ferida no cerne. A sentença que descobriu o conluio sórdido entre políticos e grandes empresários é algo de um passado que já não existe, após o STF decidir que surgiu da "parcialidade do juiz".
Os absurdos vão além. O orçamento do governo federal para 2021 destinará para gastos militares um quinto do total a ser aplicado por todos os demais ministérios. Irão a R$ 8,3 bilhões, como propôs o senador Márcio Bittar (MDB-AC), seguindo a proposta do governo, para construir submarinos, comprar aviões-caças e blindados, como se nos preparássemos para uma guerra, que não é, porém, contra a pandemia.
Enquanto os funcionários civis estão com salários congelados, o orçamento prevê aumentos para os militares a consumir outros bilhões. Só o devastador aumento da pandemia, porém, nos fere tanto no Rio Grande quanto a decisão do governador Leite de vender a Corsan, como se fosse bodegueiro de bairro.
Esqueceu-se de que água é vida e que o direito à vida não tem proprietários. A Corsan é lucrativa e eficiente e nos últimos quatro anos deixou mais de R$ 1,2 bilhão de lucro ao Estado, como lembram seus funcionários.
Em mais de 55 anos, a Corsan é modelo de gestão em todo o país. Atingiu o pico no governo Jair Soares, ao concluir o canal em concreto de 26 quilômetros (um dos três maiores da América Latina) para abastecer a cidade de Rio Grande, tratando 2 mil litros d´água por segundo.
Em Porto Alegre, em 1985-86, a gestão Jair executou 200 quilômetros de esgoto cloacal, até então quase todo jogado no Guaíba. Em Tramandaí e Capão da Canoa, os esgotos deixaram de ser despejados na areia. Em Santa Maria, além do abastecimento de água, construiu-se a maior estação de tratamento cloacal do Estado.
Tudo isto é só um exemplo do que a Corsan realizou, e que (em distintos graus) continuou noutros governos. Permitiremos que, agora, o mal se reúna em convenção nacional?
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