quinta-feira, 18 de março de 2021


18 DE MARÇO DE 2021
+ ECONOMIA

Economia sem rumo cobra choque no juro

Mesmo que fosse cogitada, a "bordoada", como a coluna chamou a alta de 0,75 ponto percentual no juro básico, não era a aposta majoritária do mercado. Por isso, a decisão do Banco Central de elevar a taxa de referência de 2% para 2,75% ao ano foi uma surpresa, ainda mais porque desafia os manuais de economia.

O crédito vai ficar mais caro no momento em que o país vive a pior fase da pandemia e enfrenta o risco de volta à recessão técnica, com economistas prevendo quedas no Produto Interno Bruto do primeiro e do segundo trimestres. Como chegamos a essa situação? O caminho passou pela soberba do ministro da Economia, Paulo Guedes, e pelo populismo do presidente Jair Bolsonaro. Guedes contribuiu com seu reiterado discurso (agora cuidadosamente evitado) de "juro baixo e dólar alto". A pandemia fez essas duas variáveis passarem do ponto. O juro caiu ao mínimo histórico para suavizar a queda na atividade econômica e desestimulou investidores a aplicar no Brasil, porque o risco ficou maior do que o retorno. Isso escasseou os dólares no país e o real se desvalorizou ante a moeda americana.

Bolsonaro transformou o Brasil em uma espécie de pária internacional com a postura equivocada sobre a Amazônia - e a condição foi celebrada pelo ministro das Relações Exteriores. Ao meter o pé na porta da Petrobras, terminou de estampar o carimbo de populista em seu mandato, assustando investidores nacionais e internacionais. Roberto Padovani, economista-chefe do Banco Votorantim, resume assim a situação:

- O comportamento de bolsa, juro e câmbio sugere crise de confiança. Depois da frustração com os discursos eleitorais e de dois anos de ruídos na gestão ambiental, sanitária e econômica, há medo persistente de retrocesso. Para que as tensões se reduzam, não é preciso grandes mudanças. Basta entregar melhores resultados nas áreas sanitária e econômica.

Outra tentativa de descrever a nau sem rumo em que se transformou a economia brasileira foi feita por André Perfeito, economista-chefe da corretora Necton:

- A situação só não é pior porque o juro baixo não tem respaldo na realidade e pouco pode fazer para de fato animar o tecido econômico. Costumo dizer que de pouco adianta ter o juro no lugar certo e a economia no lugar errado.

MARTA SFREDO

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