20 DE MARÇO DE 2021
FLÁVIO TAVARES - Jornalista e escritor
E OS JACARÉS?
Quando a saúde humana está em perigo é absurdo falar de bichos, em especial do mais feio e assustador deles - o jacaré. Atrevo-me a isto, porém, porque no Brasil atual o presidente da República transformou o jacaré em figura mítica.
Lembram-se de quando Bolsonaro disse que a vacina contra a covid-19 poderia nos transformar em jacaré? Mostrada na TV, a frase teve tom de irônica metáfora, mas os adeptos do presidente saíram a repeti-la como verdade absoluta, quase dogma. Assim, espalharam dúvidas infantis sobre a vacina, aumentando a confusão comandada pelo presidente e o então ministro da Saúde.
Agora, a pandemia cresce e mata tão intensamente, que Bolsonaro viu-se forçado a trocar o general-ministro da Saúde por um médico. Em termos científicos, Marcelo Queiroga supera o antecessor, que nada conhecia da área médica e confessou não saber sequer o que era o SUS. O novo ministro, porém, foi contraditório ao apresentar-se aos brasileiros.
Por um lado, prometeu "basear-se na ciência", com o que repudiaria a cloroquina e outras mágicas inventadas por Bolsonaro. De outro, repetiu a tolice de seu antecessor, frisando que "a política de Saúde" é do presidente e que o ministro é só "o executor".
Ou seja, informou que não será ele, mas sim Bolsonaro quem vai ditar as regras. Assim, repetiu a tolice do general Pazuello ao frisar que "Bolsonaro manda e eu obedeço".
Enquanto isso, outra doença secreta ataca à luz do sol - o aumento de preços do que seja essencial, porta aberta ao horror da inflação. Tentando evitá-la, o Banco Central aumentou a taxa de juros.
O problema atual da economia, porém, não é a taxa de juros, mas a vacinação tardia e o descuido do governo que fez a pandemia se alastrar e matar. Este é o jacaré faminto que nos espreita no charco e até no seco.
O terrível da pandemia é não sabermos localizar a fonte do contágio, sem o que não há formas de combatê-la na origem. É o tal de "um mal leva a outro muito pior". Com bloqueio total, salvam-se vidas, mas a vida se paralisa. Tudo fecha e não haverá onde comprar sequer um alfinete. Resta só a prevenção que começa pela vacina e por usar máscara sempre, lavar as mãos, evitar contatos pessoais e nunca se aglomerar.
Devíamos nos unir nesta visão, como oposição e governistas se uniram no Congresso, dias atrás, para anular as dívidas e multas tributárias (de mais de R$ 1 bilhão) das chamadas igrejas pentecostais dedicadas a dizimar e morder para engolir, como se fossem jacarés.
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