terça-feira, 23 de março de 2021


23 DE MARÇO DE 2021
CAPA

O terror é apenas um detalhe

"Depois", 62º livro de Stephen King, chega ao Brasil e soma-se a uma ampla lista de best-sellers, ao lado de "O Iluminado", "It: A Coisa" e "A Zona Morta"

Não é fácil escrever um livro best- seller, mas transformar o sobrenatural em realidade é, de certa forma, a especialidade de Stephen King. Aos 73 anos, o senhorzinho do Maine, nos Estados Unidos, teve seu 62º romance, Depois (Editora Suma), lançado no Brasil na última semana.

A nova trama pode remeter ao filme O Sexto Sentido (1999), ao colocar como protagonista um garoto com a habilidade de falar com pessoas mortas. Jamie Conklin até tenta levar uma infância comum, a pedido de sua mãe, mas tudo muda quando uma detetive do Departamento de Polícia de Nova York precisa de sua ajuda para descobrir os segredos de um terrorista morto. A partir daí, uma jornada aterradora se inicia para o menino.

O livro entra para uma bibliografia inacreditavelmente bem-sucedida, que inclui desde O Iluminado até It: A Coisa, passando por Carrie, A Zona Morta, A Dança da Morte, Louca Obsessão, A Torre Negra, O Cemitério, entre muitos outros. Obras que, mesmo que não tivessem vendido centenas de milhões de cópias, entrariam para a história por seu impacto na cultura pop.

- Sem dúvida a obra do King é imagética, e mesmo quem nunca leu um livro dele está familiarizado com uma história ou outra por causa das adaptações - reflete a editora Beatriz D?Oliveira, da Suma, responsável pelo lançamento de Depois.

Este potencial imagético não cessa de atrair cineastas desde que Brian De Palma apresentou ao mundo Carrie, em 1976, seguido por Stanley Kubrick com O Iluminado, em 1980. Ainda hoje, o cinema se rejubila com figuras como Pennywise, o palhaço macabro de It: A Coisa (2017), sem contar a corrida dos serviços de streaming por adaptações.

Tal sinergia entre as páginas e as telas pode ser vista como parte do segredo do autor para o sucesso. Como narra Edilton Nunes, responsável pelo portal nacional Stephen King Brasil, foi a onipresença dessas adaptações de obras do escritor que o levou a procurar os livros:

- Eu conheci King há exatos 26 anos, quando assisti a uma minissérie chamada Fenda no Tempo (The Langoliers, no original), baseada em um dos contos do livro Depois da Meia-Noite. Desde então, passei a notar que em muitos dos filmes que eu gostava aparecia a chamada: "Baseado em uma obra de Stephen King". Então, decidi procurar saber quem era esse tal Stephen King.

Onipresente

As dezenas de produções inspiradas nos livros e contos de King ajudam a explicar o sucesso do autor nas últimas décadas. E não para por aí, já que a convergência midiática garante que este processo seja cada vez mais reforçado, como explica a doutora em Letras Adriana Falqueto, professora do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Sul de Minas e coordenadora do grupo de pesquisa Literatura, Ficção e suas Materialidades:

- A literatura é porta de entrada para as séries e o cinema, assim como o oposto pode ser observado. Séries como a superpopular Stranger Things são porta de entrada para filmes clássicos da década de 1980, ao passo que estes sinalizam para obras de King, como O Cemitério Maldito, Na Hora da Zona Morta e O Iluminado. O lançamento do filme Doutor Sono (2019) certamente fez com que as vendas tanto do livro homônimo quanto do antecessor, O Iluminado, se ampliassem.

Seria injusto, no entanto, creditar todo o sucesso de King às adaptações bem-sucedidas. Para o escritor gaúcho Duda Falcão, um dos idealizadores da Odisseia de Literatura Fantástica e autor do "weird western" O Estranho Oeste de Kane Blackmoon, a versatilidade é uma das armas secretas de King:

- O horror em suas histórias nem sempre é o prato principal, pode aparecer muitas vezes apenas como um tempero, um ingrediente difícil de digerir. King escreve horror sobrenatural, horror psicológico, ficção científica, aventura, fantasia, drama, literatura policial etc.

Edilton afirma que é até injusto considerar King "O Rei do Terror", uma vez que ele entrega muito mais:

- O terror é apenas uma ferramenta para explorar os medos, os anseios, as dúvidas e os segredos de seus personagens, e eu acredito que é isso que o diferencia da maioria dos outros autores.

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