terça-feira, 16 de março de 2021


16 DE MARÇO DE 2021
DADOS DO RS

Disparam casos de covid-19 nas prisões

O recrudescimento da pandemia nas últimas semanas no RS tem apresentado reflexos no sistema prisional. O total de presos contaminados aumentou quase quatro vezes nos primeiros 70 dias de 2021. Conforme o boletim da Secretaria da Administração Penitenciária (Seapen), eram 25 infectados em 1º de janeiro, contaminação que avançou para 93 presos em 11 de março, crescimento de 272%. Atualmente, 25% das 152 casas prisionais têm casos confirmados ou suspeitos de covid-19 - em janeiro, 15% das unidades estavam nessa situação.

Em um ano pandemia, foram 2.158 detentos infectados, dos quais 11 morreram. A letalidade do vírus nas prisões é de 0,5%, quase um quarto do percentual da letalidade que o vírus tem na população em geral do RS, que chega a 2%.

Em todo o país, conforme o Conselho Nacional de Justiça (CNJ), 147 presos morreram por coronavírus até 8 de março, sendo que 46,9% dos casos ocorreram no Sudeste e 17% foram registrados no Sul. O RS é o terceiro Estado com maior número de presos mortos pela doença no Brasil, atrás de São Paulo (38) e Rio de Janeiro (16). É o sétimo com maior quantidade de contaminados nas cadeias desde o começo da pandemia, atrás de São Paulo, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, Paraná, Santa Catarina e Mato Grosso.

O avanço da covid-19 no sistema prisional gaúcho acompanha o agravamento da doença fora dele, na opinião do secretário adjunto da Seapen, Pablo da Cruz Vaz. Um exemplo é a situação do Presídio Estadual de Cruz Alta que até a terceira semana de fevereiro havia registrado apenas um caso e, segundo o boletim epidemiológico de 11 de março, havia se tornado a casa prisional com o maior número de infectados no RS: 21 contaminados e 30 casos suspeitos.

- Houve aumento de casos extramuros, na sociedade como um todo, e infelizmente entrou dentro do presídio, mesmo sendo tomadas todas medidas, com sanitização duas vezes por semana. O funcionário tem uma vida lá fora, tem família, vai no mercado, na farmácia, acredito que a entrada do vírus tem ocorrido dessa forma, pois só tivemos visitas em uma semana em janeiro. O preso está isolado aqui - afirma o chefe de segurança do presídio, Altemir da Silva.

Ontem, o total de contaminados no Presídio de Cruz Alta subiu para 43. A atualização dos infectados, que ainda não consta no boletim epidemiológico da Seapen, revela que 21,6% de todos 199 presos contraíram a doença nas últimas semanas. A Vara de Execuções Criminais suspendeu por 14 dias os horários de recreação e a entrada de advogados e oficiais de Justiça. Só está permitido o acesso de servidores da Susepe e de profissionais de saúde.

Testagem

O Instituto Penal Feminino de Porto Alegre chegou a ter 20 casos simultâneos em fevereiro mas, segundo a Seapen, conseguiu zerar. Em 11 de março, outros infectados estavam concentrados em prisões de diferentes regiões: Penitenciária Estadual de Bento Gonçalves (10), Penitenciária Estadual de Santa Maria (5), Presídio Regional de Santa Cruz do Sul (5) e Presídio Estadual de Quaraí (5).

Apesar da multiplicação das infecções, a Seapen afirma que a pandemia está controlada nas casas prisionais e aposta na alta testagem para conter a letalidade. Até 11 de março, 72,5% dos 5 mil servidores da Susepe e 48% dos 41.199 apenadas já haviam sido testados.

Todo preso que entra no sistema é submetido a uma quarentena preventiva de 14 dias e, no final deste período, é testado. Na Região Metropolitana, há mais de 1,3 mil vagas destinadas exclusivamente ao isolamento preventivo de novos detentos: 700 no Complexo Prisional de Canoas e 600 na Penitenciária Estadual de Sapucaia do Sul.

Os que já estão em presídios e penitenciárias e apresentam sintomas são isolados e fazem o teste RT-PCR. A testagem de contactantes ocorre segundo critérios da Secretaria Estadual da Saúde. Visitas de familiares não são permitidas nas bandeiras pretas e vermelhas.

- Nunca trabalhamos com risco zero nem temos pretensão disso. O isolamento preventivo do preso tem a fonte de contágio muito mitigada. O próprio servidor que convive em sociedade, pode, eventualmente, contrair a doença fora do sistema. Outra fonte são os terceirizados e as famílias, com entrega de sacolas com itens de higiene e comida. Todos os cuidados que tomamos não são infalíveis - diz o secretário adjunto da Seapen.

Maior cadeia do Estado, o Presídio Central, em Porto Alegre, teve a primeira contaminação por coronavírus em julho de 2020. Depois, chegou ao pico de cem testes positivos simultâneos, mas conseguiu baixar o total de infectados e, segundo o diretor do presídio, tenente-coronel Carlos Magno, a contaminação ficou zerada por três meses. Desde o começo da pandemia, três presos morreram devido à doença quando já estavam no hospital. Na sexta-feira passada, havia seis detentos isolados aguardando resultado do exame PCR e três casos positivos.

Após chegar a quase uma centena de infectados, parecia improvável atingir números tão baixos em um espaço projetado para 1,8 mil pessoas que abriga 3,5 mil. Magno afirma que foram aplicados protocolos de higiene em grande escala e qualquer deslocamento para fora das galerias é restrito e, quando ocorre, é exigido que os presos usem máscara.

JENIFFER GULARTE

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