26 DE MARÇO DE 2021
OPINIÃO DA RBS
SINAL VERMELHO EM BRASÍLIA
Após dois anos e três meses de governo, a dinâmica das posturas de Jair Bolsonaro já não surpreende mais ninguém. Quando tenta vestir o figurino da moderação, infelizmente, a regra é a de que, poucos dias ou mesmo horas depois, vem o refluxo, por vezes ainda mais radical. Observa-se atualmente uma mudança nas atitudes do presidente no que tange à pandemia. O pronunciamento à nação na noite de terça-feira em tom sóbrio e a reunião de quarta-feira com os chefes dos demais poderes para tratar de uma coordenação nacional no combate à pandemia são exemplos concretos, mesmo que permeados de imprecisões e desvinculados, em parte, do histórico de deboches e negações em relação à covid-19.
O diferente, neste momento, é que a pressão sobre o presidente parece ser maior. A economia segue em frangalhos, o desemprego permanece alto e, no Supremo Tribunal Federal (STF), o presidente colhe seguidas derrotas. A desastrada condução da pandemia, tragédia que levou a vida de mais de 300 mil brasileiros, tem se refletido em uma perda significativa de aprovação do governo e de Bolsonaro, mostram diversas pesquisas de opinião.
A carta já assinada por mais de mil economistas, empresários, financistas e banqueiros exigindo uma guinada na política de combate ao novo coronavírus é outro sinal. Mostra que, embora o presidente insistisse havia mais de um ano em ser contrário a medidas restritivas, homens e mulheres de negócios e especialistas que esquadrinham diariamente os números da atividade econômica no país compreendem que a prioridade, hoje, deve ser conter a escalada da peste. As críticas ao chanceler Ernesto Araújo, da cota ideológica na Esplanada, também crescem dia a dia pela atuação catastrófica do ministro, que mais atrapalha do que ajuda em um momento em que o Brasil clama por ajuda internacional para acelerar a vacinação.
O descontentamento é tamanho que até os aliados do governo no Congresso emitem indícios de paciência no fim. No início da semana, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, chamou a atenção para o estrago do negacionismo. Na quarta-feira, de forma ainda mais contundente, o presidente da Câmara, Arthur Lira, falou em um "sinal amarelo", deixando no ar a possibilidade de uma erosão absoluta no apoio ao Planalto no Congresso.
A dúvida é se é apenas mais uma chantagem em busca de mais vantagens para o grupo que representam ou se o centrão, apesar de apreciar cargos e emendas, farejou o risco de acabar como sócio da calamidade na saúde. Espera-se que, especialmente após o claro recado de Lira, Bolsonaro consiga se conter - mesmo que seja um exercício de extremado otimismo acreditar nesta hipótese. Mas, mais do que amarela, acendeu-se uma luz vermelha para o presidente.
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