20 DE MARÇO DE 2021
DANIEL SCOLA INTERINO
Onde estão os nossos líderes?
Houve um momento decisivo no século 20, durante a Segunda Guerra Mundial, em que a postura de um líder foi determinante para definir entre o que a humanidade é hoje e o que poderia ter sido. Em maio de 1940, um parlamentar velho, excêntrico e longe de ser unanimidade política foi escolhido primeiro-ministro do Reino Unido para liderar a nação no momento mais grave da história, quando a invasão nazista era considerada iminente. Não fossem a insistência, a força dos argumentos e a promessa de que "nós nunca nos renderemos", a história poderia ter sido completamente diferente.
Seu antecessor, Neville Chamberlain, chegou a assinar um acordo com Hitler em 38, ao que Churchill reagiu: "Entre a desonra e a guerra, escolheste a desonra e terás a guerra". Opositores e aliados desconfiavam da capacidade de resistência e liderança frente a uma máquina de guerra jamais antes vista. É fácil olhar para o passado e ver quem tinha razão. Difícil, e aí entra em cena o verdadeiro líder, era perceber o que precisava ser feito naquela momento crítico da história.
A queda do grande Império Britânico nas mãos de Hitler teria dado outro rumo e provavelmente outro destino à guerra. Até hoje, a possibilidade de um mundo dominado pelo nazismo é uma das distopias que mais nos assombram. Coube a Churchill o papel central e decisivo de reunir forças para reerguer o país, proteger a população, manter o moral elevado mesmo sob intensos ataques de bombardeiros que "escureciam o céu" e, acima de tudo, trazer os Estados Unidos para uma força aliada. Churchill era movido por um desejo irrefreável de vitória. Sob seu governo, os britânicos mantiveram a esperança de êxito mesmo nos momentos em que tudo levava a crer na derrota. Com suas marcantes convocações pelo rádio, restaurou a confiança de um país que foi ao chão e convenceu o mundo de que havia espaço para a reação. Doris Kearns Goodwin, professora de História em Harvard, examinou quatro exemplos de presidentes que mudaram o rumo dos Estados Unidos pela forma como exerceram a liderança.
Em Liderança em Tempos de Crise, ótimo livro que saiu no fim de 2020, Goodwin analisa as crises enfrentadas por Abraham Lincoln, Theodore e Franklin Rosevelt (primos distantes) e Lyndon Jonhson e faz perguntas simples como " indivíduos nascem ou se tornam líderes?". Todos esses presidentes eram dotados de muitas qualidades: inteligência, empatia, energia, habilidade para lidar com pessoas e capacidade de oratória. Mas foi na crise, no momento-chave em que um país inteiro precisou de um guia, que eles se destacaram. "Sem guerra, não há grande general" disse Theodore Rosevelt.
Lincoln enfrentou uma Guerra Civil pelo fim da escravidão e venceu; Theodore Rosevelt encarou as profundas transformações sociais e econômicas da Era Industrial e organizou o país; Franklin Rosevelt reconstruiu a economia depois da quebra da bolsa em 1929 implementando o New Deal e decidiu, contra a opinião de muitos, entrar na Segunda Guerra. Lyndon Jonhson foi um caso mais curioso. Depois de ter enfrentado um grande problema doméstico, pôr fim ao segregacionismo nos Estados do sul, uma cicatriz que parecia incurável, se tornou líder marcado pelo desastre no Vietnã. Cada um em seu tempo na história e sob circunstâncias diferentes, os quatro presidentes deixaram lições que são perenes.
Doris Goodwin identifica algumas características comuns dos grandes líderes: 1- Reconheça quando políticas fracassadas exigem mudança de direção; 2- Reúna informações em primeira mão, faça perguntas; 3- Encontre tempo e espaço para pensar; 4- Recorra a todas as possibilidades de compromisso antes de impor o poder executivo unilateral; 5- Encontre pontos de vista antagônicos; 6- Assuma total responsabilidade por uma decisão crucial; 7- Não permita que ressentimentos passados persistam, transcenda as vendetas pessoais; 8- Estabeleça um padrão mútuo de respeito e dignidade, controle a raiva; 9- Proteja os colegas da culpa; 10- Mantenha a perspectiva em face tanto do louvor quanto da agressão; 11- Saiba quando esperar e quando avançar; 12- Coloque o interesse coletivo acima do autointeresse.
Olhando para história, me pergunto: onde estão os líderes do nosso tempo? Quem realmente merece fazer parte dos que serão lembrados na história como grandes líderes do século 21? Onde estão aqueles que podem nos guiar na hora mais difícil da nossa geração? Quem será capaz de infundir em nós um senso de propósito e perspectiva. A crise atual também é uma crise de liderança generalizada.
Há quem prefira, como alternativa, se iludir com figuras de ocasião. Para estes, é bom lembrar que a história é intolerante a fake news.
*David Coimbra está em licença-saúde. - DANIEL SCOLA | INTERINO
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