04 de outubro de 2016 | N° 18651
EDITORIAIS
O ELEITORADO DESCRENTE
Em nove capitais brasileiras, o número de votos brancos, nulos e de eleitores que não compareceram às urnas foi maior do que o do candidato que ficou em primeiro lugar nesses municípios. Isso ocorreu, inclusive, nos dois maiores colégios eleitorais do país, São Paulo e Rio de Janeiro, além de Belo Horizonte, Porto Alegre, Curitiba, Belém, Cuiabá, Campo Grande e Aracaju. O re-cado dos não eleitores é claro: esse grupo de brasileiros está desencantado com os políticos e com a política da maneira como vem sendo praticada no país.
A Operação Lava-Jato, que desnudou o mais amplo esquema de corrupção da administração pública na história da nação, e a participação dos grandes partidos nesse esquema delituoso, especialmente daqueles que vêm ocupando o poder nas últimas décadas, contribuíram fortemente para o sentimento de decepção coletiva. Mas o principal elemento motivador da indiferença política é a dificuldade dos eleitores para identificar bons candidatos entre os pretendentes a cargos públicos, potencializada por discursos e promessas dissociados da realidade.
Resgatar a confiança desse eleitorado descrente, portanto, passa a ser o grande desafio dos eleitos. Para isso, os prefeitos e vereadores que logo assumirão seus mandatos precisam focar suas ações e administrações na transparência, na seriedade e no gerenciamento eficaz dos gastos públicos. Devem considerar que o desencanto não se restringe aos eleitores que não votaram ou invalidaram seus votos. Também os cidadãos que apostaram em determinados candidatos exigem honestidade e permanente prestação de contas, para continuar acreditando na representação política como sustentáculo da democracia.
Depois do voto, é imprescindível continuar acompanhando e fiscalizando os eleitos, pois os eleitores que se omitiram, querendo ou não, também estão sendo representados por aqueles que votaram por todos.
CAMPANHA TRANSPARENTE
Encerrada a primeira rodada das eleições no Rio Grande do Sul, o que se pode concluir, antes mesmo da definição nos quatro municípios gaúchos que ainda terão segundo turno, é que foi uma campanha limpa, transparente, de alto nível. Com raríssimas exceções, não houve baixarias nem atos de violência. Resta aos gaúchos apostar que, na próxima etapa de votação em Porto Alegre, Santa Maria, Caxias do Sul e Canoas, a disputa se mantenha sadia e que os candidatos concentrem suas ações e discursos em projetos factíveis para melhorar a vida das cidades.
Em muitos aspectos, a peculiaridade de esta campanha ser a primeira realizada de acordo com a nova lei eleitoral contribuiu para a preservação de um nível elevado, permitindo um diálogo mais direto e produtivo entre candidato e eleitor. O simples fato de os postulantes a voto não terem contado com o dinheiro de empresas, incluindo empreiteiras, já significou um ganho importante, que precisa ser preservado com fiscalização rigorosa e permanente.
Ao limitar os orçamentos aos recursos doados por pessoas físicas, a nova lei tornou as campanhas mais sintonizadas com a situação financeira do setor público no Estado e no país. Garantiu também mais ética à busca por votos.
Assim como a redução de recursos, a diminuição do tempo de campanha permitiu maior objetividade no diálogo entre candidato e eleitor. Ficou claro que estratégias bancadas por quantias elevadas de dinheiro, em muitos casos de origem duvidosa, nada têm a ver com avanços na democracia. Ao contrário, servem muitas vezes para ameaçá-la, ao colocar a própria política em descrédito.
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