09 de setembro de 2015 | N° 18289
DAVID COIMBRA
Quem inventou Fábio Júnior
O “Caso Fábio Júnior” resume a política brasileira.
Note: Fábio Júnior é um artista que nunca tinha sido ativo politicamente. Manifestou-se no domingo, enrolado numa bandeira nacional, durante um show. Deu sua opinião, de conteúdo mais ou menos consensual entre os brasileiros, e se excedeu na forma, ao criticar Lula e Dilma.
Certo.
Na mesma noite, poucas horas depois de sua manifestação, as redes sociais já estavam abastecidas com reproduções do seu discurso, festejando-o, sim, mas também atacando-o através de variados tópicos, matérias, notas e artigos. Levantou-se até o hipotético número de cirurgias plásticas a que ele se submeteu e de shows em que supostamente se apresentou bêbado ou drogado, entre outras insinuações acerca da sua conduta pessoal e competência profissional.
É a fórmula que os governistas consagraram neste século, sempre que identificam um inimigo. Ideias não são debatidas; o autor das ideias, sim. A reputação é vilipendiada, e para isso os governistas se valem de uma rede formada por guerrilheiros virtuais e intelectuais cooptados, todos eles recebendo vantagens diretas ou indiretas do dinheiro público manuseado pelo governo. É uma manobra profissional. Defendeu o governo? Dê uma pesquisada. Em algum momento, ganhou um mimo pago com dinheiro público.
Mas quero voltar a Fábio Júnior. Quem é Fábio Júnior? Ele é a representação perfeita do brasileiro que não tinha paciência com política e que, agora, decidiu atuar.
Essa massa de brasileiros, em geral pertencente à classe média, estava ocupada com seus afazeres. As cabeças das pessoas andavam ocupadas com o chefe chato, com as agruras do seu time de futebol, com as artes dos filhos e com eventuais cônjuges ou candidatos a. Política? Só na véspera da eleição. Enquanto isso, as instâncias do Estado foram sendo preenchidas pelo partido dono do poder.
O PT encaminhou os recursos públicos para o atendimento de seus interesses. Criou uma casta de beneficiários. Não tome o mau exemplo; tome o bom: os aparentemente positivos investimentos na educação de nível superior. Universidades e faculdades foram criadas graças a programas federais. Essas faculdades estão tomadas de alunos mal formados por um ensino básico e fundamental deficiente. Importa ao governo que as escolas públicas que esses alunos frequentaram sejam ruins? Não. Importa que as faculdades para onde eles foram empurrados sirvam como ótimo negócio para seus proprietários e como bolsões de apoio ao partido.
O governo do PT não trabalhou para o país; trabalhou para se eternizar no poder. Foi precisamente a constatação do uso desvirtuado da coisa pública que arrastou para a política um oceano de gente que não se interessava por esse tipo de assunto pastoso. Gente como Fábio Júnior, que fez uma manifestação singela, porque partiu de um homem singelo. Em certo momento, empolgado com a vibração da plateia com seu discurso, Fábio Júnior passou dos limites da boa educação. Mas até aí ele foi o que é: um homem simples, sem sofisticação ideológica. São essas pessoas simples e sem sofisticação ideológica que dizem algumas bobagens quando se manifestam contra o que acham errado, como aquelas que identificam na volta da ditadura a oposição ao governo do PT. É uma besteira: o PT não é o oposto da ditadura.
São excessos naturais de pessoas que começaram agora a fazer política. Pessoas que, como Fábio Júnior, estavam quietas e que se viram impelidas a fazer política devido às ações do governo. Foi o PT quem pariu milhões de Fábios Júniors. Quem os pariu que os embale.
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