quinta-feira, 3 de setembro de 2015



03 de setembro de 2015 | N° 18283 
DAVID COIMBRA

Cuidado, governador


Gosto do governador Sartori, sei de suas ótimas intenções, mas ele está cometendo um erro profundo. É um erro tático, que, de tão grave, começa a se tornar um erro estratégico, e erros estratégicos podem arrastar, mesmo os bons, à ruína.

Antes, cabe ressaltar que ele está sendo honesto. Sartori verdadeiramente concluiu que o Rio Grande do Sul está em situação falimentar, pelo seguinte motivo: o Rio Grande do Sul verdadeiramente está em situação falimentar.

Constatado o problema, o governador construiu a convicção de que a solução será o aumento dos impostos. Mas ele sabe que essa medida é amplamente rechaçada pelos empresários e pela população em geral. Sartori, então, decidiu convencer a população, os empresários e os deputados de que o projeto de aumento dos impostos precisa ser aprovado.

Como? Argumentando? Não. Argumentos talvez não fossem fortes o suficiente.

Assim, Sartori resolveu fazer com que as pessoas SINTAM o drama do Estado. Não recorreu a paliativos, como fazer com urgência o pedido dos polêmicos depósitos judiciais. Não enfrentou seu maior credor, a União, com mais dureza. Nada disso. Sartori permitiu que os dolorosos sintomas de uma doença crônica se manifestassem sem dar alívio algum ao paciente.

As greves, a paralisia dos serviços públicos e a gritaria dos servidores, de certa forma, servem a esse projeto. Mas Sartori não percebeu os riscos da sua aposta. Em primeiro lugar, porque ele está se isolando. Se o PT é uma oposição feroz em todo o Brasil, no Rio Grande do Sul é muito mais. Sartori, em vez de se proteger, municiou a oposição, que agora já tem justificativas para usar todas as suas extensões na sociedade a fim de estrangular o governo. 

Já na União, Sartori não encontra nem encontrará solidariedade ou o mínimo de flexibilidade. Dilma e Levy estão preocupados exclusivamente com seus próprios problemas, que não são poucos. Por fim, a parcela dos servidores que poderia estar ao seu lado voltou-se contra ele, e com razão: receber salário atrasado é quase pior do que receber salário baixo.

Sartori não tem o tempo que acha que tem. Ele não pode mais ficar cevando a sociedade gaúcha na crise, não pode mais ficar esperando a maturação do desespero para tomar uma atitude. Parafraseando Jânio, ele despertou forças terríveis, que talvez não consiga mais dominar.

Não estou sendo alarmista. Estou ouvindo o alarme soar. O cidadão está com medo e o servidor está com raiva. Quando sentimentos dessa natureza andam juntos, o perigo se torna iminente. O governador precisa agir com urgência. Antes que a tragédia torne a urgência desnecessária.

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