marcia
dessen
05/01/2015 02h00
A sedução das pirâmides
financeiras
Participei
da Conferência de Educação Financeira e Comportamento do Investidor, promovida
pela CVM (Comissão de Valores Mobiliários), na qual assisti à palestra da
procuradora da República Mariane Guimarães de Mello Oliveira sobre Prevenção e
Combate às Pirâmides no Brasil. Fiquei estarrecida com os dados e não posso deixar
de compartilhar com vocês, esperando que o alerta ajude a estancar esse
processo.
As
pirâmides financeiras proliferam no Brasil. Por um lado o consumidor confiante
num "otimismo ganancioso", sem informação adequada sobre os riscos do
investimento, em contraposição à propaganda altamente sedutora das empresas que
oferecem lucro rápido sem esforço.
O
Ministério Público tenta combater o crescimento vertiginoso de empresas que
praticam o crime de pirâmide disfarçado de marketing multinível e estima que a
cada semana surjam cerca de três novos casos!
O
marketing multinível é uma estratégia de distribuição de bens e serviços,
divulgada "boca a boca" por distribuidores independentes. O dinheiro
dos novos participantes paga os mais antigos e o esquema desmorona quando o
ingresso de novos associados diminui, deixando muita gente no prejuízo.
Estima-se que 90% dos investidores vão perder seus investimentos no período de
18 meses, prazo médio de sobrevivência de uma pirâmide.
O
pioneiro parece ter sido o italiano Charles Ponzi, que em 1920 atraiu milhares
de pessoas prometendo rentabilidade de 50% em apenas 45 dias ao comprar cupons
postais de outros países, trocados por selos nos EUA a um preço mais alto.
Quando o esquema ruiu, descobriu-se que eram necessários 160 milhões de cupons
postais para sustentar as margens que seduziam os investidores, mas só existiam
27 mil no mercado. Com prejuízo de US$ 225 milhões em valores atuais, seu nome
carimbou o golpe de pirâmide, mundialmente conhecido como esquema de Ponzi.
Vamos
ver casos que provocaram perdas de bilhões de reais a milhões de brasileiros,
segundo investigação e parecer do Ministério Público.
Bbom
–A empresa realizava marketing agressivo nas redes sociais e TV, focado não no
produto (rastreador veicular), mas, sim, na bonificação. Apurou-se que a Bbom
teria vendido mais de 1 milhão de rastreadores para mais de 200 mil associados;
comprou apenas 69 mil aparelhos, nem todos entregues, embora cobrasse pelo seu
comodato. Apesar da ampla cobertura da imprensa sobre a acusação de prática de
pirâmide, a Bbom obteve autorização judicial para operar sob novo modelo. Antes
de sofrer novo bloqueio judicial, faturou quase R$ 2 bilhões, prejudicando 1
milhão de pessoas!
TelexFree
–Só no Acre estima-se que 10% da população tenha se associado ao esquema
fraudulento, que afetou cerca de 1 milhão de pessoas no Brasil inteiro,
causando prejuízo de bilhões aos consumidores. Sob a isca de venda de produto
VoIP de chamada de voz gratuita pela internet, ao custo de US$ 49,90 por
franquia de 3.000 minutos, anunciada como ilimitada, e valor comercial não
competitivo diante de opções mais baratas, como o Skype, ou mesmo gratuitas,
como o WhatsApp. Nem gratuito, nem ilimitado!
Boi
Gordo –Considerado o mais conhecido caso de pirâmide financeira do Brasil, com
atuação forte na década de 1990, 30 mil investidores perderam cerca de R$ 2,5
bilhões até 2004. Os investidores aplicavam em gado, seduzidos pela
oportunidade de embolsar lucro muito superior ao juros da época. O esquema ruiu
quando a CVM passou a regular esse mercado.
Avestruz
Master –Fundado em Goiânia em 1988, o grupo oferecia contratos de compra e
venda de avestruzes. A empresa comercializou mais de 600 mil aves, mas só tinha
38 mil. Tiveram prejuízo 40 mil investidores, sendo 30 mil só em Goiás. Foram
gastos R$ 4 milhões em publicidade em 2004 e apenas R$ 100 mil em ração!
Camarão
Master –Logo após a falência da Avestruz Master, na mesma Goiás que teve sua
economia paralisada em razão do volume de dinheiro ali investido e, apesar da
ampla cobertura da imprensa a respeito, surgiu em 2005 a empresa Acquajoin, com promessa
de rentabilidade de 10% ao mês. A semelhança de atuação e do resultado
desastroso da Avestruz não impediu novos investidores!
Madoff
–Bernard Lawrence Madoff amealhou bilhões de dólares, em Wall Street, com o
maior esquema de Ponzi da história. Ele administrou recursos de 16 mil vítimas,
inclusive brasileiras, em um negócio que funcionou por 16 anos com promessa de
rentabilidade de 1% ao mês. Estima-se que os investidores tenham perdido entre
US$ 12 bilhões e US$ 20 bilhões no período!
Editoria
de Arte
Ainda
tem dúvida de que o esquema não é sustentável? Observe na figura a evolução de
uma pirâmide que solicita de cada participante a indicação de apenas seis
pessoas. Na 13ª fase já estariam envolvidas mais de 13 bilhões de pessoas,
número superior a toda a população mundial!
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