sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

Jaime Cimenti

Pessoas em situações-limite

Se alguém ainda duvida que o jornalismo é a melhor profissão do mundo, como disse o escritor e jornalista Gabriel Garcia Márquez, é só ler Em terreno minado - aventuras de um repórter brasileiro em áreas de guerra e conflito, de Humberto Trezzi, jornalista mais premiado de 2013 e  vencedor do Prêmio Esso de 2013. Trezzi é especialista em coberturas de risco. Sua obra revela bastidores de reportagens em áreas de risco que ele fez em quase 30 anos de profissão.

“Crime e guerra são a minha ‘praia’ desde que comecei na profissão, lá no longínquo 1984”, diz o autor. No livro, o repórter apresenta detalhes de arrepiar, conflitos, rebeliões e catástrofes em vários pontos do mundo, como Angola, Bolívia, Chile, Colômbia, Haiti, Líbia, México, Paraguai, Timor e também em Porto Alegre, Rio e Santa Catarina. “É apenas um balanço daquilo que mais me impactou nesses anos de estrada. Um ajuste de contas com a profissão”, conta Trezzi, modesto, sobre o livro.

O autor aprendeu a escrever reportagens em estilo literário na leitura de grandes mestres como Ernest Hemingway, Joseph Conrad e Gabriel Garcia Márquez. Matadores de aluguel, traficantes, assaltantes, entrevistados em seus esconderijos, tentativas de golpe de Estado e situações em que o autor esteve sob risco de vida estão na obra, que retrata bem nosso conturbado mundo contemporâneo.

Em abril de 1996, o repórter esteve a perigo nos arredores do aeroporto de Kuito, em Angola. Em 2011, esteve em meio a disparos de artilharia da Líbia. No interior da Bolívia, em 2008, Trezzi e um fotógrafo foram detidos por índios revoltados que os consideraram americanos.

Em 2008, Trezzi fez uma reportagem sobre mafiosos mexicanos em Ciudad Juarez, onde em sua primeira noite houve 17 mortes. Guerra civil no Haiti, terremoto no Chile, caçadores de veículos roubados no Paraguai, meandros do tráfico de drogas no Rio e em Porto Alegre e outros acontecimentos estão nas páginas do livro, que revela o fascínio das reportagens e um repórter nada super-homem e demasiadamente humano, como o classificou Andrei Netto, correspondente de O Estado de S. Paulo na França.

Na parte final do livro, com título Reportagem Policial, Trezzi oferece um texto vibrante sobre o tempo dos policiais-repórteres, quando alguns jornalistas (especialmente os policiais-jornalistas) portavam armas e o relacionamento da imprensa com os criminosos era, por vezes, bem diferente do que o da atualidade.


Enfim, quem gosta de emoção, aventura, jornalismo e literatura, leia o livro. Não se arrependerá. Geração Editorial, 344 páginas.

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