04
de janeiro de 2014 | N° 17663
PAULO
SANT’ANA | MOISÉS MENDES (Interino)
Vamos para
Marte
Essa
história de que mandarão 24 pessoas a Marte. Você acredita? Quem vê a cápsula
da Apolo 11, com três banquinhos apertados num funil de três metros de
diâmetro, não acredita que aquilo possa ter ido à Lua.
A
cápsula está no Museu Aeroespacial de Washington. É um monte de ferro
chamuscado. Armstrong, Aldrin e Collins ficavam espremidos em meio a um monte
de fios e painéis de comando com essas chaves antigas de liga-desliga que
faziam “clic”.
Você
olha os banquinhos, como eu olhei, e examina a cápsula por dentro e por fora e
sai dali se perguntando: como pôde? Eles ficaram nove dias dentro daquilo. E em
1969.
Já
foi dito que a Apolo 11 tinha recursos eletrônicos e de informática inferiores
aos que cabem hoje num celular comum. Mas não é a questão tecnológica que
impressiona, porque tudo passou a ser possível.
O
que inquieta numa aventura desse tamanho é o comportamento humano. Como alguém
fica nove dias, sob tensão extrema, sentado entre dois homens, como ficou
Armstrong, o comandante?
Agora,
pense na viagem a Marte organizada pela empresa holandesa Mars One. Mais de 200
mil pessoas se inscreveram, mil passaram na primeira etapa e só 24 serão
mandadas para colonizar o planeta.
Numa
excursão, numa viagem de grupo, em qualquer situação em que exista uma turma
desconhecida, você começa a olhar os parceiros em volta antes de entrar no
ônibus ou no avião. Examina a fala, os gestos, as risadas e se pergunta: quem
será a mala dessa excursão?
A
excursão a Marte tem um detalhe, um pequeno detalhe: você vai e não volta. Você
vai ficar em Marte para sempre com outras 23 pessoas, e certamente haverá malas
entre elas. Imagine uma TPM em Marte. Pense que você pode dividir um quarto em
Marte com alguém que fala sem parar, ou que fica com a TV ligada no programa do
Ratinho, ou que lê e comenta livros de autoajuda sobre como sobreviver em
Marte.
Você
fica uma semana encerrado na sala aí na firma e torce para que o sábado chegue
logo. Pense que não há fins de semana em Marte, que não há como fugir para um
parque, um shopping, um cinema. Em Marte, até um jogo com esse time do Grêmio
que não faz gols seria um programa fantástico. Mas lá não haverá futebol, nem
futebol de quinta categoria.
-
Eu
só me mudaria para Marte se a Tânia Carvalho estivesse no grupo. Iríamos rir
das desgraças, da falta de erva para o chimarrão, do tempo sempre nublado.
Ficaríamos comentando os vários tons de cinza daquela paisagem belíssima e, aos
domingos, sairíamos a procurar marcianos nos anéis de Saturno, porque já se
sabe que não há marcianos em Marte.
Anuncia-se
que o grupo de 24 colonizadores terá pelo menos um médico, um psicólogo, um
jornalista, um cozinheiro, um marqueteiro e um empreiteiro. O chefe da
delegação, mesmo que não tenha futebol em Marte, será um dirigente da Fifa. Não
estão previstos políticos. Os políticos surgirão lá, porque político viceja nos
lugares mais inóspitos.
É
uma excursão arriscada, como essas de ônibus para a praia da Ferrugem no
Carnaval. Tem tudo para dar errado.
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