sexta-feira, 3 de janeiro de 2014


03 de janeiro de 2014 | N° 17662
PAULO SANTANA | MOISÉS MENDES - INTERINO

O barulho ao redor

Batista atormentou minha vida de gremista naquele Internacional imbatível dos anos 70. Mas eu não desejaria nunca como vingança o tormento da barulheira que persegue Batista em Ipanema, na zona sul de Porto Alegre.

O comentarista é morador da beira do Guaíba, onde a turma do som automotivo se reúne aos domingos. Estacionam, abrem o porta-malas (alguns carros nem porta-malas têm, mas só as caixas com alto-falantes) e fazem um duelo de ruídos.

Toda a barulheira produzida pela música dançante brasileira desfila por Ipanema. Eles aparecem mais nos domingos à tarde. O objetivo é impressionar as gurias pela ostentação da breguice.

Liguei para Batista na tarde do primeiro do ano para saber como estava o ambiente, porque queria escrever sobre a bagunça na área em que ele mora. Batista estava num café na beira do rio. Me contou sobre o que presenciara pouco antes na Avenida Guaíba, perto da imagem de Oxum. Um rapaz estacionou, abriu a tampa traseira e deu um show:

– Ele ficou por uma hora e meia tocando bate-estaca. Foi embora há uns cinco minutos.

A região ao redor da imagem de Oxum é a preferida. Não pense que os bárbaros são pobres ou remediados. Tem gente fina, em carro bom. São moradores de Porto Alegre e da Região Metropolitana. Ipanema é o point.

Batista me contou que ultimamente a situação até que melhorou um pouco, mas só um pouco, com a presença da Brigada. Mas, se a Brigada some, como sumiu no primeiro do ano, eles voltam.

Estou falando de Ipanema, mas o barulho é generalizado. Chegamos ao descontrole total, por falta de fiscalização e de leis. Mas o que falta mesmo é vergonha, inclusive dos governantes.

Em São Paulo, vigora uma nova lei, que multa em R$ 1 mil os donos de carros que estiverem com som alto. Em algumas praias de Santa Catarina, há avisos nos postes de que não é permitido som em carros. Aqui mesmo, em Porto Alegre, uma praia particular ao lado da reserva de Itapuã tem uma enorme placa na entrada avisando que ninguém pode ouvir música nos carros.

Mas e os nossos vizinhos, que nos torturam todos os fins de semana? E o caminhão do gás com aquela música chata (eu prefiro um sino), que gruda na cabeça da gente sábado e domingo?

Os vereadores vão dizer que existem leis. Mas quem fiscaliza e reprime? Batista sabe que o incomodado deve denunciar, fornecer seu nome e endereço e ser exposto à bagaceira. Em São Paulo, era assim, mas a nova lei não permite mais a divulgação do nome de quem se queixa.


Somos todos moles demais com os desaforados do som alto em carro, em casa, nas praias. Nessa terra sem lei, a tática poderia ser esta: vizinho que atacar de bate-estaca e assemelhados teria como resposta, na porta da casa, as valquírias do Wagner em versão sertaneja. Depois da meia-noite.

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