Aqui voces encontrarão muitas figuras construídas em Fireworks, Flash MX, Swift 3D e outros aplicativos. Encontrarão, também, muitas crônicas de jornais diários, como as do Veríssimo, Martha Medeiros, Paulo Coelho, e de revistas semanais, como as da Veja, Isto É e Época. Espero que ele seja útil a você de alguma maneira, pois esta é uma das razões fundamentais dele existir.
domingo, 23 de outubro de 2011
DANUZA LEÃO
O poço que não tem fundo
Para quem recebe verba, dinheiro do governo é uma coisa vaga, não tem dono, não é de ninguém
QUANDO UMA pessoa normal, como eu, precisa fazer uma pequena obra em casa -infiltração no banheiro, por exemplo-, chama uma firma e pede um orçamento.
Nesse orçamento está incluída a parte hidráulica, alguma coisa de eletricidade, mais o serviço do pedreiro, eventualmente alguns azulejos, e a pintura. Eu acho caro, peço mais dois orçamentos; um deles é a metade do primeiro, o outro, o dobro. Como saber qual é o preço justo? Essa é uma situação comum, mas que me paralisa.
Imagine agora um ministério distribuindo verbas imensas, para que crianças carentes participem do mundo dos esportes.
Como saber o preço para manter 1.500 -digamos- adolescentes com uniformes, alimentação, mais o equipamento esportivo, manutenção das quadras, e por aí vai?
Quem controla o dinheiro que cada ONG recebe? Aliás, é sempre bom desconfiar quando ouvir "sem fins lucrativos".
Quem paga com seu próprio dinheiro procura encontrar os uniformes de preço mais razoável, as bolas de vôlei menos caras, a merenda mais adequada à garotada que pratica esportes; mas duvido que quem recebe o dinheiro do Ministério do Esporte faça como as pessoas comuns. Para eles, dinheiro do governo é uma coisa vaga, não tem dono, não é de ninguém.
Mas é, sim; é dinheiro nosso, e ontem, quando estava lendo as denúncias graves que atingem o ministro dos Esportes, o telefone tocou. Era o contador, dizendo quanto eu devo pagar de Imposto de Renda até o fim do mês -o pagamento é trimestral. Como, segundo alguém, a parte mais sensível do ser humano é o bolso, doeu; doeu e eu senti, na carne, para onde meu dinheiro ia. Não dá.
Como bem diz nossa sábia presidente, todo mundo é inocente até prova em contrário, mas nunca se saberá quais os critérios para decidir a que ONGs o dinheiro vai ser destinado, e por que são aquelas, e não outras -e quem recebe propina não assina recibo.
Esquecendo a propina, que é um mero detalhe -20%-, o fato de um ministério destinar tanto dinheiro para a Associação de Kung Fu, para a Federação Paulista de Xadrez, para a Liga do Futebol Society do Distrito Federal, já seria motivo mais do que suficiente para demitir o ministro. Já dançaram muitos, todos herdados do governo Lula -tanto quanto Orlando Silva; quem é mesmo que enchia a boca quando falava em herança maldita?
E cansa ler e ouvir as mesmas palavras, sempre iguais: "nego todas as acusações".
A Copa está chegando, envolve muita grana, cada um puxando a sardinha para sua brasa, as obras de estádios e aeroportos estão atrasadas, não dá para ter certeza de que tudo estará pronto, mas Deus é brasileiro, dizem.
Eu não entendo de economia, mas sei que se qualquer pessoa, assim como qualquer país, gastar mais do que pode -e mal-, não costuma dar certo. E o trem-bala, e a usina de Belo Monte? Nunca mais se ouviu falar.
Agora, parece que chegamos ao fundo do poço: já estão roubando merenda de criança. Mas que ninguém tenha ilusões: esse poço não tem fundo, e nunca vai se saber de ninguém que tenha sido preso.
PS - Pelo que sei, as passeatas contra a corrupção, contra o voto secreto e a favor da ficha limpa, são "combinadas", digamos assim, pelo Facebook, Twitter etc.; e quem não frequenta as redes sociais, como vai ficar sabendo, para poder participar?
danuza.leao@uol.com.br
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