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segunda-feira, 10 de outubro de 2011
10 de outubro de 2011 | N° 16851
ARTIGOS - Jorge Barcellos*
Menos iPod, mais miojo
Sou pré-histórico. Não tenho iPhone, iPad e nem iPod. Meu celular tem inúmeras funções graças a Steve Jobs, mas só uso uma ou duas. E quanto à tela touch screen, alguém pode me explicar por que os nomes da agenda deslizam tão rápido que mal consigo selecioná-los?
Desculpe, estou ficando velho e as rabugices marxistas vêm à tona. Não entendo por que tanta idolatria com os feitos de Jobs. Quem disse que suas invenções fizeram avançar a humanidade?
Seus aparelhos são o tormento de inúmeros professores: os alunos perdem a concentração da sala de aula porque estão ouvindo seu iPod; você não consegue falar com uma pessoa porque ela está no seu iPhone – “só um instante, só um instante!” – e não abro mão da experiência táctil que um livro possibilita – vade retro iPad!
A celebração dos feitos de Jobs oculta o fato de que todo avanço tecnológico cobra um preço. A invenção do avião foi também a do desastre aéreo; a do navio, o naufrágio, e a do trem, o descarrilhamento. Toda invenção cria o seu acidente, diz Paul Virilio.
O avanço digital também tem o seu: torna nossa sociedade mais individualista e compulsiva. Pessoas caminham como zumbis nos parques, alheias à beleza natural, e a caminhada a dois passa a ser uma caminhada individual; ficam obcecadas com a telinha do computador e não desviam o olhar sequer quando você lhes dirige a palavra, e a leitura de textos em um iPad só faz as pessoas terem menos paciência para lerem textos longos.
Como repetem os adoradores das criações de Jobs, tudo ficou mais fácil com ele, é verdade – outra forma de dizer que seu sucesso se deve ao fato de reconhecer que somos todos estúpidos. “É fácil de usar? Então estou dentro.” A questão é que as criações de Jobs não são instrumentos passivos de informação.
“Eles fornecem o conteúdo de nossos pensamentos, mas também modelam o processo de pensamento”, diz Nicholas Carr. Isto quer dizer que devemos parar de usá-los? É claro que não! Só que devemos ser mais críticos quanto ao condicionamento que provoca ao nos possibilitar receber informação de forma rápida e superficial.
Confesso que fiquei mais triste quando morreu, em 2007, Momofuku Ando. O inventor do macarrão instantâneo e fundador da Nissin Foods Products morreu aos 96 anos, de ataque cardíaco. Ando teve a ideia de criar o macarrão instantâneo depois da II Guerra Mundial, quando via as pessoas passando inúmeras horas na fila para comprar alimentos no mercado negro devido ao racionamento.
Qual foi a invenção mais importante para a humanidade, a do miojo – nenhuma unanimidade, dirão os nutricionistas – que mata a fome e socializa, ou a do iPod – que aliena e individualiza?
Alto lá! É claro que Jobs tem imenso valor, mas não por suas invenções, mercadorias que o capitalismo adora, mas pela simplicidade das ideias que expressou no famoso discurso de Stanford “você tem de encontrar o que você ama”. Sorte de Jobs de que encontrou algo que também o deixou rico.
*Doutorando em Educação/UFRGS
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