sábado, 8 de outubro de 2011



08 de outubro de 2011 | N° 16850
NILSON SOUZA


Previsões

Li outro dia interessante artigo do jornalista Clóvis Rossi sobre previsões a respeito do fim do jornal impresso. Lá pelas tantas, ele cita uma história contada pelo ex-vice-presidente Marco Maciel sobre a sabedoria de um antigo jogador pernambucano, o zagueiro Ananias. Sempre que ele entrava em campo e os repórteres perguntavam o que esperava do jogo, Ananias lascava:

– Só faço previsões sobre o passado.

Pois é, mesmo quem já viu o futuro chegar muitas vezes, como as pessoas da minha idade, incorre em imprudência se disser o que vai acontecer daqui a cinco minutos. Ainda assim, todos temos dentro de nós um Cléo Kuhn escondido, que vez por outra vem para fora e arrisca um palpite, sem consultar qualquer mapa de nuvens e trovões, como faz o nosso atilado meteorologista.

Mas o tema é outro: vai mesmo acabar o jornal impresso? Especialistas respeitados não têm mais dúvida sobre isso. Dizem que a questão é outra: quando? A revista The Economist causou furor quando publicou, em 2006, uma capa com a pergunta: Quem matou o jornal? Na mesma edição, citou a previsão do escritor Philip Meyer de que a última edição impressa de um jornal norte-americano seria publicada no primeiro trimestre de 2043.

A revolução tecnológica, principalmente a internet, estaria matando o jornal, afirmava a reportagem. Está? Por aqui, temos resistido bravamente. Os jornais brasileiros vêm, inclusive, aumentando a circulação, provavelmente por conta de uma nova classe consumidora que ainda não incorporou totalmente as plataformas digitais, como já ocorre em países mais desenvolvidos.

No jornalismo, a gente aprende que não se deve brigar com a realidade. Não me atreveria a dizer que os jornais vão sobreviver às vertiginosas transformações da comunicação. Dizem alguns que o livro, no seu formato tradicional, também está condenado, pois um leitor eletrônico desses que proliferam em todas as lojas pode conter uma biblioteca inteira. Quando penso nisso, racionalizo:

– O importante é que as pessoas leiam, não importa onde.

Mas, lá no fundo de minha alma, prefiro pensar como o zagueirão Ananias: previsões, só sobre o passado. E recomendo: quem quiser se arriscar a prever o fim dos impressos, que o faça numa plataforma digital.

Fica mais fácil de apagar.

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