quinta-feira, 27 de outubro de 2011



27 de outubro de 2011 | N° 16868
EDITORIAIS ZH


Tempo esgotado

Adecisão do Supremo Tribunal Federal de abrir inquérito para investigar o ministro Orlando Silva acabou sendo o apito final do verdadeiro jogo de sobrevivência protagonizado pelo titular da pasta do Esporte desde que surgiram as primeiras denúncias de irregularidades no programa Segundo Tempo.

Ontem, ele finalmente adotou a decisão mais sensata para o caso: pediu demissão para poder se defender sem impor mais desgaste ao governo. Foi a sexta troca de ministro em 11 meses da administração Dilma Rousseff, cinco por envolvimento ou conivência com episódios de corrupção.

O ministro do PC do B fez um grande esforço para permanecer no cargo. Exasperou-se com as primeiras denúncias, chamou o seu acusador de bandido e tentou convencer o país de que estava sendo vítima de uma armação, mas suas explicações não foram suficientes para sensibilizar o governo nem para conter a onda de notícias ruins em torno do ministério.

A primeira rejeição foi da Fifa, que deixou de reconhecer o ministro como interlocutor para os eventos esportivos que organizará no Brasil. Depois, o procurador-geral da República reuniu elementos para sustentar uma denúncia ao Supremo. Por fim, o STF acatou o pedido e abriu inquérito para investigar as irregularidades denunciadas.

A presidente Dilma Rousseff agiu com a devida cautela: ouviu seus conselheiros mais próximos, consultou as lideranças do partido aliado, mas não tinha mesmo como segurar mais o assessor enrolado em suspeitas. Seria um prejuízo maior para o seu governo sustentar um ministro sangrando exatamente no momento em que a pasta do Esporte está sendo mais demandada, em virtude da proximidade das competições esportivas internacionais que o país receberá nos próximos anos.

Embora o ministro demitido mereça a presunção de inocência, como qualquer cidadão acusado de irregularidade ou delito, sua permanência no governo ficou inviável com a constatação de que ONGs ligadas ao seu partido recebem recursos do programa Segundo Tempo e não realizam os serviços prometidos. Tenha ou não envolvimento direto nas fraudes, o fato é que o ministro foi alertado em fevereiro pela imprensa e até agora não havia adotado providências corretivas.

Com o estouro do novo escândalo, ficou evidente a sua leniência em relação ao caso. Além disso, ao se ver envolvido em outras suspeitas, tais como a compra de um terreno com recursos de origem desconhecida e o favorecimento de uma empresa comandada por sua mulher, o ministro ficou com sua autoridade comprometida.

Terminou o seu tempo no governo, e talvez tenha terminado também o do PC do B no comando de uma pasta valorizada pela proximidade da Copa. Bem que o governo podia aproveitar o episódio para dar um caráter mais técnico ao Ministério do Esporte, não apenas escolhendo um nome acima de qualquer suspeita para comandá-lo, mas também traçando uma política moralizadora, revisando convênios que não apresentam os resultados desejados e bloqueando de vez as relações promíscuas com organizações clandestinas que se aproveitam de brechas no controle para subtrair a nação.

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