Aqui voces encontrarão muitas figuras construídas em Fireworks, Flash MX, Swift 3D e outros aplicativos. Encontrarão, também, muitas crônicas de jornais diários, como as do Veríssimo, Martha Medeiros, Paulo Coelho, e de revistas semanais, como as da Veja, Isto É e Época. Espero que ele seja útil a você de alguma maneira, pois esta é uma das razões fundamentais dele existir.
terça-feira, 11 de outubro de 2011
11 de outubro de 2011 | N° 16852
LIBERATO VIEIRA DA CUNHA
Uma perdida fé
Estou eu posto em sossego, lendo Machado de Assis, em meio à calma da manhã de domingo, quando irrompem os sons vigorosos dos sinos da Catedral. Já perdi a conta dos anos em que os escuto, eu, que sempre fui habitante destas vizinhanças da Praça da Matriz.
Sei que foram importados da Europa, talvez da Alemanha ou da Holanda. Mas isso não importa tanto. O que conta é a sintonia de suas harmonias, sempre pontuais, sempre emprestando a plenitude de seus acordes a todas as horas do dia.
Esses sinos me acompanham desde que eu era adolescente. Todas as fases de minha vida, desde então, foram ritmadas pelas melodias de seus timbres.
Me bate uma espécie de suave nostalgia ao recordar as épocas em que, aos 17 anos, acordava com seus sons para preparar o vestibular de Direito. Me vem uma doce lembrança ao lembrar os tempos de namoro. Me persegue uma terna evocação das épocas em que chegava tarde do jornal que garantia o meu sustento.
Salvo na infância, nunca fui um visitante frequente da Catedral. Quando menino, me distraía da missa observando os pássaros que pousavam nas esquadrias brancas do que viria a ser a cúpula da igreja. Mais tarde, assistia à missa das nove horas, que era o prelúdio de um domingo que incluía passeio pela Praça da Matriz, almoço com massa e galinha assada, matinê, jogo de futebol.
Depois, fui me distanciando da Catedral, embora não faltasse nunca às cerimônias da Semana Santa, com as imagens cobertas de roxo e as preces e cantos em bom e velho latim. De uma delas, me ficou o perfil da mais bela garota que já vi, com seu véu e seu rosário, numa atitude de oração que jamais esquecerei. Nunca descobri quem era, castigo apropriado para quem, ao invés de rezar, ficava observando as moças.
Então me afastei dos cultos, que só retomei em templos como o da Notre Dame de Paris.
Mas os sinos de cada manhã e tarde não me deixam esquecer que sou católico, ao menos na denominação.
Talvez algum dia volte a frequentar a Catedral de Porto Alegre e ver renascer em meu coração uma antiga, perdida fé.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário