sexta-feira, 7 de outubro de 2011



07 de outubro de 2011 | N° 16849
PAULO SANT’ANA


O emagrecimento

Como já relatei, com 32 aplicações de radioterapia, perdi o paladar e a saliva.

Por isso, não posso ingerir alimentos sólidos, vivo de sucos e sopas. Como não penso só em mim, imaginei como se sentem as pessoas que são obrigadas a emagrecer e assim têm de controlar sua alimentação.

É um inferno.

Recentemente, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) baniu do mercado brasileiro os remédios emagrecedores à base de anfetamina. E agora manteve, mas com restrições, o registro de inibidores de apetite derivados da sibutramina, remédios que já tinham sido eliminados das farmácias em países desenvolvidos, por conta de sérios riscos à saúde.

Ou seja, uma paulada terrível nos gordos.

Então eu fico pensando que não há saída para os gordos. Por um lado, não podem comer alimentos que engordam, por outro lado, não podem usar remédios que emagrecem.

Uma fatal sinuca de bico.

Não me lembro do nome do remédio que, de repente, na semana passada, desapareceu de todas as farmácias brasileiras. Desapareceu porque a fábrica não deu conta de tantos pedidos.

É um remédio para diabéticos. Mas os médicos e os gordos descobriram que o remédio é maravilhoso para emagrecer. E os gordos se lançaram com tanta fúria à procura e ao uso do remédio, que ele desapareceu das prateleiras das farmácias.

Vai daí que vi um diabético que se dava bem com o remédio, que lhe baixava a glicose do sangue, reclamando na televisão que ele agora tinha ficado sem o medicamento por causa do avanço dos gordos sobre o remédio, o que esgotou o estoque.

Ou seja, os diabéticos, para quem tinha sido criado o remédio, ficaram sem o produto por conta dos gordos, para quem não tinha sido criado o medicamento.

Não é irônico?

Evidentemente, os médicos ficam de olho na indústria farmacêutica: quando ela lança remédios contra o diabetes, para controlar o colesterol ou até para doenças cardíacas, e como essas doenças são ligadas à gordura, os médicos notam que aqueles medicamentos são excelentes para o emagrecimento. E receitam-nos para seus pacientes.

Até mesmo porque nunca na história deste país se viu tanta gente engordando adoidado.

É que logo em seguida surgem os resultados de estudos médicos que dão conta de que os remédios emagrecedores causam sérios danos à saúde das pessoas.

Deduz-se logo daí que os gordos vivem tomando os emagrecedores com desconfiança: será que eles não são um veneno, como dizem algumas reportagens?

Que inferno!

Aconteceu comigo. Como só posso ingerir alimentos líquidos, no meu tratamento contra o câncer, perdi 12 quilos, as calças antigas que não me serviam mais me voltaram a ser elegantes, além do que, como ingiro muito menos alimentos que antigamente, quando não tinha câncer, diminuiu o meu índice de glicemia, suavizando meu diabetes.

Fiquei com vontade de fazer uma absurda propaganda nesta coluna: se você quiser emagrecer ou ver amenizado seu diabetes, tenha um câncer.

Mas não é irônico?

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