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quinta-feira, 20 de outubro de 2011
20 de outubro de 2011 | N° 16861
PAULO SANT’ANA
Inversão da lógica
Eu estava anteontem assistindo ao ministro do Esporte, Orlando Silva, desdobrar-se em sua defesa das acusações de corrupção desfechadas pela revista Veja.
Ele foi espontaneamente até a Câmara dos Deputados e, em reunião com os parlamentares, alinhou os seus argumentos defensivos, tendo tido a iniciativa inédita de ele próprio solicitar a instalação de uma CPI a respeito. Diga-se que ultimamente os acusados se conformam em se ver investigados pela Polícia Federal e pelo Ministério Público, mas fogem como diabo da cruz de CPIs.
Fiquei pensando que deve ser penoso para um homem público investido do cargo de ministro ter de se submeter a esse exercício dialético.
De um lado, uma testemunha acusando o ministro de receber propina relativa a seu cargo. De outro, o ministro se defendendo e atacando a credibilidade do denunciante.
Eu chego a pensar que se inverteu a equação do princípio de inocência presumida, absurdamente: nos tempos em que vivemos no país, todo homem público de início é considerado suspeito. A ele deverá ser dado o encargo de derrubar essa suspeição, agindo com lisura, mas além disso terá de ser eficiente e veemente em sua defesa, caso lhe sobrevenham acusações.
Imagino um artigo na Constituição que diga o seguinte: “Todo político será considerado corrupto, a menos que reúna comprovação de sua inocência absoluta”. Ou seja, o ônus da prova caberá ao político. Em vez da inocência presumida, a culpabilidade presumida, assim ficaram as coisas depois desse maremoto de corrupção que se abateu sobre o mundo político nacional.
Um grande autor escreveu uma vez uma frase que nunca mais saiu da minha cabeça: “Só existem duas forças invencíveis no mundo, a inteligência e a corrupção”.
É verdade quanto à corrupção. Nenhum regime por mais severo que seja conseguiu até hoje acabar com a corrupção. A gente de vez em quando topa com a notícia de que alguém foi executado com um tiro na nuca, na China, acusado de corrupção.
A corrupção parece ser inerente à condição humana.
Aqui no Brasil, a realidade faz crer que não se pode muitas vezes diferenciar determinados partidos políticos de organizações criminosas.
Alguns fazem recrutamento de filiados, convenções, depois das eleições indicam seus membros para assumir cargos no Executivo, mas toda a aparência é de que esse ritual visa a somente sugar recursos para os bolsos de seus afilhados, retirados do erário, fruto dos impostos recolhidos pelos contribuintes.
Evidentemente, nesses casos, em meio a essas pretensas organizações criminosas, existem pessoas de bem, honestas, idealistas, que pretendem com a prática política apenas o bem da sociedade, os incautos.
Mas o cerne dessas organizações espúrias, pelo que se nota, é dirigido para a locupletação de alguns mais espertos e ligeiros dos seus membros.
A impressão que se tem ultimamente é de que a única diferença entre o Fernandinho Beira-Mar e o Paulo Maluf é que nunca o Fernandinho Beira-Mar aparece de gravata.
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