Aqui voces encontrarão muitas figuras construídas em Fireworks, Flash MX, Swift 3D e outros aplicativos. Encontrarão, também, muitas crônicas de jornais diários, como as do Veríssimo, Martha Medeiros, Paulo Coelho, e de revistas semanais, como as da Veja, Isto É e Época. Espero que ele seja útil a você de alguma maneira, pois esta é uma das razões fundamentais dele existir.
sábado, 15 de outubro de 2011
15 de outubro de 2011 | N° 16856
DAVID COIMBRA
O azulzinho que amava
Um azulzinho também tem direito ao amor. Mas aquele triste azulzinho apaixonado, o que aconteceu com ele? Foi execrado publicamente, foi perseguido até pelo Poder Legislativo e, por fim, foi demitido.
Por quê? Porque um dia amou.
Você sabe o que ocorreu: dias atrás, uma moça foi parada por uma blitz na Zona Sul de Porto Alegre, recusou-se a fazer o teste do bafômetro e os agentes da EPTC a autuaram. Horas depois, recebeu uma mensagem no celular. Não era nada agressivo, não havia nenhuma proposta indecorosa, embora houvesse erros gramaticais.
Era o azulzinho pedindo seus contatos para que se comunicassem por MSN ou Facebook ou Orkut. Mesmo assim ela se revoltou, denunciou-o, o caso parou nas páginas dos jornais, foi discutido com fervor na Câmara dos Vereadores e o azulzinho viu-se atirado à sarjeta dos desempregados.
Fico pensando: se ela tivesse se sentido atraída pelo azulzinho, se o azulzinho fosse um Brad, se os bíceps do azulzinho tivessem 40 centímetros de diâmetro, será que ela se ofenderia com o assédio?
Para você ver como tudo depende do lado em que se está. Temos o hábito de só olhar o mundo do nosso ponto de vista, de explicar o jogo a partir do nosso time e nunca analisar o poderio do adversário.
O infausto azulzinho, ao que tudo indica, enamorou-se da motorista. Ela relatou que, durante a operação, ele não desviava o olhar do seu decote. Suponho que fosse um decote profundo e ornamentado com graça por belo colo. Suponho que a visão o tenha encantado de tal forma que ele não conseguia pensar em mais nada.
Os carros passavam a 120 por hora, os motoristas bêbados gargalhavam pela avenida acenando com suas garrafas de pinga pela janela, e o azulzinho nem os via. Só suspirava e sorria, pensando na linda infratora e no vale do seu decote. Então, não resistiu. Valeu-se de informações privilegiadas e enviou um torpedo. Sonhava com um romance, sonhava quiçá com uma casa com cerquinha branca e filhos correndo no quintal. Sonhava com o amor.
Mas não.
Não foi assim que ela entendeu. Ela se sentiu ofendida, em vez de sentir-se envaidecida. E o mundo do azulzinho veio abaixo.
Então agora é assim. Não se pode mais assediar as mulheres. Não se pode mais fazer a corte. Não há mais como entabular relacionamentos. Não há mais como crescer e reproduzir.
É isso? Ou ela aceitaria o assédio se o azulzinho fosse um Brad? Realmente, temos dificuldade de olhar a partir do ponto de vista do outro. Temos dificuldade de entender que do outro lado do campo há um adversário com idêntica vontade de vencer. Como é difícil o mundo do amor irrealizado. Como é difícil não ser um Brad.
A personalidade de um bar
O que as pessoas fazem em um bar? As pessoas se encontram, se veem, conversam, se beijam, cantam, riem. Um bar, em geral, é um lugar onde acontecem as melhores coisas da vida. Os bares têm personalidade própria. E alguns têm personalidade tão forte que seus frequentadores são influenciados por ela.
Era o que acontecia com o Maza, um dos bares históricos de Porto Alegre.
O Maza fica na Bento, em frente à PUC, e era para lá que nós íamos salvar o Brasil nos anos 80, eu, o Juremir Machado da Silva, o Telmo Flor, o Ricardo Carle, o Ricardo Bueno, o Sérgio Lüdtke e tantos outros. Não salvamos o Brasil, nem a nós mesmos salvamos, mas as noites no Maza tornaram-se inesquecíveis. Graças à personalidade dele, o Maza, batizado Octacílio Bento, homem que sabia tolerar as exaltações e a falta de fundos características de jovens estudantes universitários.
Nas compridas mesas do Maza nós falávamos das gurias da faculdade e de Bukowski e Bakunin, nós escalávamos a seleção do mundo de todos os tempos e não compreendíamos por que o Brasil não ganhava uma Copa, nós derrubávamos a ditadura e tecíamos poesia. Noites intensas, madrugadas brumosas, era o que tínhamos no Maza.
Ontem fui informado pela sobrinha do velho Octacílio que ele morreu em Tubarão (SC). Fiquei triste. Perdemos um homem que compreendia que um bom bar pode tirar das pessoas o que elas têm de melhor.
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