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sábado, 22 de outubro de 2011
23 de outubro de 2011 | N° 16864
EDITORIAIS ZH
SETE BILHÕES E UMA CASA SÓ
Estabelecido por demógrafos como o dia em que a Terra atingirá a marca de 7 bilhões de seres humanos, o próximo 31 de outubro deve provocar, de forma simbólica, um confronto de governantes mundiais com questões irresolvidas no planeta, apesar do desenvolvimento tecnológico das últimas décadas.
Foi vertiginoso, como previram pesquisadores, o crescimento da população mundial, de modo especial no último século. No início dos anos 1800, ela somava pouco mais de 1 bilhão. Por volta de 1930, havia duplicado de tamanho e cresceu de forma assombrosa nos últimos 80 anos, com a perspectiva, mesmo que as taxas de fecundidade tenham baixado, de atingir 9 bilhões em 2045, um futuro nem tão distante.
Diferentemente das previsões pessimistas do economista inglês Thomas Malthus (1766-1834), porém, indicando que a população aumentaria em progressão geométrica, enquanto os meios de subsistência cresceriam somente em progressão aritmética, a superpopulação já não é o principal temor.
Na maior parte dos países, o tamanho das famílias diminuiu – na Europa, no final dos anos 1990, chegou a 1,4 filho por mulher –, e a Organização das Nações Unidas (ONU) estima que o planeta alcançará a taxa de fecundidade mínima de reposição até 2030.
A produção de alimentos em larga escala, facilitada pela tecnologia, garante ainda que não falte comida. Só passam fome as populações de países isolados, assolados por conflitos internos ou envolvidos em guerras. A fome é, hoje, um problema localizado, mas não menos importante, claro, e que deve ser atacado com urgência, para evitar que mais vidas se percam. Da mesma forma, nesses mesmos pontos, é preciso lutar pela erradicação de doenças corriqueiras que seguem dizimando populações mais pobres.
Mais do que a superpopulação, preocupa agora a humanidade a crise econômica, o desemprego, a falta de infraestrutura e mobilidade nos grandes centros urbanos, o descaso com o ambiente, a escassez de água potável, as poucas alternativas a fontes de energia não renováveis como o petróleo, os conflitos armados e o terrorismo.
Viver em cidades superpovoadas e enfrentar problemas como o trânsito, o consumo de água e energia, de modo particular, deverá ocupar as atenções de governantes e estudiosos de urbanismo.
A tendência, indicam as projeções, é de que a população urbana não pare de crescer. Em 1975, só três cidades no mundo tinham mais de 10 milhões de moradores; hoje já são 21 as megacidades e especula-se que, em 2050, 70% da população mundial viverá em áreas urbanas.
Malthus, com outros pesquisadores e futurólogos que lhe sucederam, não tinha como imaginar a Terra com 7 bilhões de habitantes considerando o mundo globalizado, a revolução da tecnologia e das comunicações, que rompe fronteiras e aproxima os povos, mas que não veio acompanhada, na mesma velocidade, por uma moderna governança global.
A ONU à qual, em tese, caberia esse papel, já não satisfaz, da mesma forma como se têm revelado ineficientes as áreas de integração econômica criadas mais recentemente, como a União Europeia ou, para ficarmos com a realidade local, o próprio Mercosul.
Há novas necessidades criadas por esse mundo novo. Uma das fundamentais é a utilização inteligente e solidária dos recursos do planeta, de modo especial nos países mais ricos. Sabe-se, por exemplo, que uma pessoa nos Estados Unidos consome, em média, cinco vezes mais energia do que uma em Gana, assim como a grande parte da emissão de gases que causa o efeito estufa se origina do mundo desenvolvido.
Não confrontar esses problemas pode ter um efeito muito mais danoso do que os altos índices de natalidade. Somos 7 bilhões e vivemos todos na mesma casa. Se não nos entendermos e não cuidarmos melhor do nosso planeta, não haverá futuro para a humanidade.
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