sábado, 29 de outubro de 2011



29 de outubro de 2011 | N° 16870
CLÁUDIA LAITANO


Sete bilhões

Em algum momento da próxima segunda-feira, o planeta atingirá a cabalística cifra de 7 bilhões de habitantes. Um vídeo da National Geographic informa, entre outros dados curiosos, que uma pessoa levaria cerca de 200 anos para contar em voz alta até o número 7 bilhões.

Fiquei sabendo também que 7 bilhões de pessoas, instaladas bem próximas umas das outras, como se fossem assistir a um show de rock megadisputado, não ocupariam nem sequer o território de um país inteiro.

Com boa vontade e muitos banheiros químicos à disposição, caberíamos todos nós, gregos e troianos, esquimós e suecos, gaúchos e seus egos, no modesto território correspondente à cidade de Los Angeles.

A contagem dos habitantes do planeta (5 bilhões em 1987, 6 bilhões em 1999) tem mais ou menos o mesmo impacto que a mudança de idade para o indivíduo da nossa espécie: o significado do novo número é mais simbólico do que prático, mas sempre provoca algum estremecimento.

O aniversariante de temperamento otimista tende a comemorar seus 30, 50 ou 80 anos lembrando a sorte de continuar vivo e com fôlego suficiente para soprar velinhas – dinossauros, por exemplo, nunca tiveram que se preocupar com estatísticas de superpopulação ou com a qualidade da água que bebiam.

O pessimista, por sua vez, encara o aniversário como mais uma badalada do sinistro relógio que controla o horário em que a festa deve terminar: cada nova boca pedindo alimento é uma ameaça em potencial à parte que nos cabe nesse latifúndio.

A notícia de que um novo bilhão de terráqueos juntou-se a nós nos últimos 12 anos pode provocar aquele desconforto de quem embarca em um avião lotado e descobre que lhe coube justamente a poltrona do meio da fila mais apertada.

Ainda muito influenciados pelas já anacrônicas teses malthusianas, somos assombrados por pesadelos de escassez e disputas imaginárias por território. O economista britânico Malthus (1766-1864) foi o primeiro teórico a lançar a hipótese catastrófica de que as populações humanas crescem em progressão geométrica, enquanto a produção de alimentos, mesmo nas melhores condições, cresceria em progressão aritmética. Para nossa sorte, o futuro (nosso presente) não foi tão terrível assim.

Parece claro hoje que o maior problema do planeta não é o número de pessoas, mas a maneira como elas se organizam (ou desorganizam) para administrar em conjunto esse enorme condomínio – que não necessariamente teria menos problemas se fosse menos populoso.

Os números da ONU servem exatamente para que a gente pare e pense em alguns desses problemas (produção e distribuição de alimentos, consumo exagerado, desequilíbrio ambiental...) como se formássemos uma grande equipe, um elenco, um grupo de passageiros dirigindo-se a um mesmo destino comum – o futuro. E não como um aglomerado aleatório de indivíduos que nada têm em comum além da circunstância de partilharem uma das 7 bilhões de cotas do time-sharing do planeta.

claudia.laitano@zerohora.com.br

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