segunda-feira, 17 de outubro de 2011



17 de outubro de 2011 | N° 16858
KLEDIR RAMIL


Par ou Ímpar

Depois de vários anos ocupados com assuntos da vida de adulto, Kleiton e eu fizemos uma viagem ao mundo da gurizada e estamos lançando Par ou Ímpar, disco inspirado nesse universo fascinante. Foi preciso “desenvelhecer” até chegar ao ponto certo, aquele estado de espírito em que a fantasia se confunde com a realidade.

O universo infantil é carregado de pureza, e pureza é contagiante. Foi um mergulho transformador, uma oportunidade de resgatar o monte de coisas boas que a gente vai perdendo pelo caminho.

Kleiton e eu tivemos uma infância feliz em Pelotas, e isso foi marcante na nossa vida. Éramos dois moleques que jogavam bolinha de gude e soltavam pandorga no meio da rua. Dois guris de calça curta, curiosos com o ambiente que nos rodeava.

Na calçada, na escola, em casa. Lembro dos programas de rádio, dos disquinhos coloridos e da literatura infantil. Em especial, a coleção O Mundo da Criança, os livros de Monteiro Lobato e as histórias que a Dalvinha contava pra gente dormir.

Dalva, nossa mãe, cantava e imitava as vozes dos bichos, dos personagens, o que dava outra dimensão à narrativa. Ela conseguia transformar uma simples história em um espetáculo multimídia na nossa imaginação. Todos esses estímulos foram importantes para nossa formação e estão presentes em tudo o que fazemos.

Lembranças da infância aparecem o tempo todo em nossa obra (Maria Fumaça, Noite de São João, Lagoa dos Patos...), sempre em forma de “uma saudade boa”. Esse disco agora, ao contrário, não é sobre um tempo que passou, é música para as crianças de hoje. O desafio foi fazer canções para uma garotada que vive em apartamento e brinca de videogame.

E foi refletindo sobre isso que surgiu o conceito do disco: a constatação de que certos assuntos e brincadeiras são clássicos. E o que é eterno convive bem com tudo, inclusive com as novas tecnologias. O mesmo se pode dizer da sonoridade de instrumentos como violão, piano e percussão. O conceito temático acabou inspirando também a concepção musical do trabalho, e tudo passou a fazer sentido.

Escrever canções para crianças é uma tradição na música popular brasileira que vem desde Braguinha, passando por Vinícius de Moraes, Chico Buarque e tantos outros. Esse disco é a nossa contribuição, somando-se a iniciativas recentes de retomar essa tradição meio esquecida entre artistas de público adulto.

Espero que vocês e seus filhos se divirtam tanto quanto nós.

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