Aqui voces encontrarão muitas figuras construídas em Fireworks, Flash MX, Swift 3D e outros aplicativos. Encontrarão, também, muitas crônicas de jornais diários, como as do Veríssimo, Martha Medeiros, Paulo Coelho, e de revistas semanais, como as da Veja, Isto É e Época. Espero que ele seja útil a você de alguma maneira, pois esta é uma das razões fundamentais dele existir.
quinta-feira, 13 de outubro de 2011
CARLOS HEITOR CONY
O Senhor de todos
RIO DE JANEIRO - Foi feito pela mão do homem, ao contrário da Lagoa, que foi feita pela mão de Deus. É Senhor do Rio. Não chega a ser um objeto de culto, não pertence a nenhuma religião específica, embora tenha o visual e o nome do fundador de uma delas.
Na verdade, é um bloco de cimento rude revestido de pequenas escamas, como as naves espaciais. É um gigante de muitos metros de altura, com os braços abertos: apesar do gesto, não lembra uma cruz, mas um abraço.
De tal maneira integrou-se ao pedestal -um penhasco negro e formidável- que o conjunto é, de longe, o maior monumento jamais criado pelo homem, mesmo o homem que não tenha Deus.
O carioca se habituou a ele e ele se habituou ao carioca. Em todos os sentidos, é um carioca, incorporou-se à sua persona e ao seu anedotário. Judeus, ateus, comunistas, umbandistas -todos concordam que ele é a cara do Rio.
É o primeiro a enfrentar nossos temporais, o primeiro a ouvir os tamborins dos nossos morros nas vésperas do Carnaval, o primeiro a se espantar com nossas enchentes e misérias, o primeiro a amanhecer em seu posto de trabalho, pontual e breve. Se for do nosso destino ser um dia destruídos por uma catástrofe, natural ou provocada, ele será a primeira vítima, o primeiro a morrer, com os seus imensos braços abraçando todos nós.
Não é só da cidade, é de todos que aqui chegam, venham de onde vieram. Mas é da Lagoa que se tem a visão fantástica de seu assombroso pedestal de granito. É na Lagoa que ele se reflete durante o dia e, fosforescente, sereia iluminada, fica boiando nas águas escurecidas pela noite.
Todos o sabem ali, inarredável, sempre o mesmo, altar doméstico, âncora às avessas, jogada contra o céu (trecho de "A Lagoa", Relume Dumará, 2ª edição, 2000).
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário