segunda-feira, 24 de outubro de 2011



24 de outubro de 2011 | N° 16865
J. A. PINHEIRO MACHADO


Pobre do Rio Grande

Caio Araujo Ribeiro foi um dono de bar inesquecível, no comando do sempre lembrado “106”, na praça Júlio de Castilhos, em Porto Alegre. Certa vez, entrou um gaiato – ilustre, por certo, em impecável terno de linho branco, lenço de seda e chapéu panamá – e se surpreendeu com o Caio preparando um impecável blood mary: “Veja só!

Um Araujo Ribeiro atrás do balcão... Pobre do Rio Grande!” O Caio que, entre outras virtudes magníficas, sabe rir de si mesmo, se encarregou de tornar o caso um clássico da ironia rio-grandense. A frase, por certo, é injusta quanto à estirpe dos Araujo Ribeiro: o Dr. Delmar e dona Sarinha (ah, aqueles almoços!) mostraram o caminho ao Paulo Odone, ao Dinho e tantos outros.

Mas, em relação ao Rio Grande, a frase dita quase 30 anos atrás era premonitória. O episódio da escolha das sedes da Copa das Confederações e da Copa do Mundo, bem a propósito, é emblemático.

São assustadores os dados do imenso revés do nosso Estado, detalhados por Marta Sfredo, na edição de ontem de ZH, estimando perdas diretas de 400 milhões de reais, segundo cálculos idôneos. O editor de Copa Rodrigo Müzell contribuiu para aumentar nosso constrangimento, mostrando as conquistas do Ceará, com trabalho intenso e bem articulado.

Fortaleza vai sediar uma das semifinais da Copa das Confederações. Em 2014, na Copa do Mundo, terá o mesmo número de jogos de São Paulo, seis, e poderá, ainda, receber dois jogos da Seleção Brasileira. Em moeda corrente nacional, o prêmio dessa vitória é incalculável. Além de abocanhar boa parte do que Porto Alegre perdeu, quanto valerá a divulgação mundial das “marcas” Fortaleza e Ceará?

Nada disso veio de graça. Uma frase do secretário da Copa do Ceará, Ferrucio Feitosa, resume as bases da vitória: “Achei prudente ficar dentro do próprio estádio no primeiro ano, exatamente para acompanhar as obras de perto.”

A derrota do nosso ufanismo gaúcho foi assunto de jornais de fora do Estado no fim de semana. A Folha de S. Paulo registrou esforços de última hora da empreiteira que cuida do Beira-Rio, tentando um gol heroico na prorrogação: “Considerava que, se algum representante de Porto Alegre fosse à Suíça, poderia colaborar para que a cidade tivesse mais protagonismo nas competições. Resultado: ninguém do Estado viajou à sede da Fifa e o RS teve seu papel diminuído.

” Estavam lá governadores, prefeitos e representantes de todos os Estados e cidades interessados, menos nós, e isso, por certo, ajudou. Mas atribuir essa derrota somente ao lobby de última hora é acreditar no pensamento mágico. Vale a constatação daquele ministro da ex-Alemanha Oriental, testemunhando, perplexo, a demolição, pedra por pedra, do Muro de Berlim: “Acho que cometemos algum erro...”

O inventário de nossas culpas está em andamento. Mas é indispensável o programa de nossas esperanças. O futuro nos aguarda.

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